Esposa do miliciano assassinado diz que foi queima de arquivo e cita o governador Wilson Witzel como suspeito

Atualizado em 9 de fevereiro de 2020 às 20:23
Adriano da Nóbrega

A mulher de Adriano da Nóbrega,  Júlia Mello, disse ao advogado do marido ter certeza de que ele foi morto para não revelar segredos. “A esposa dele me ligou aos prantos, dizendo que tinha absoluta certeza de que isso tinha sido uma ação orquestrada para matá-lo e não para prendê-lo, tanto é que ele disse a ela que não estava armado”, afirmou Paulo Emílio Catta Preta, que defendia Adriano, ao jornalista Chico Alves, do UOL.

Adriano vivia maritalmente com Júlia depois de se separar de Danielle, que foi nomeada como assessora no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. Júlia estava com ele na Bahia e, no dia 2 de fevereiro, denunciou uma ação truculenta na casa em que ela se encontrava.

“Eles quebraram a minha porta, arrancaram o forro do teto da casa, me xingaram de puta e piranha, e botaram um fuzil na cabeça de uma criança de sete anos, perguntando: ‘Onde está o seu pai?’”

“Eu estou apavorada. Eles podem me parar nas blitz nas estradas, estão cercando a casa. Eles queriam matar meu marido, tudo por política. Não posso ficar no meio disso”, afirmou

Segundo Júlia, o interessado na queima de arquivo seria o governador Wilson Witzel.

Júlia, no entanto, não revelou o teor das denúncias que incriminariam o governador.

Hoje, o advogado Paulo Emílio Catta Preta conversou com Júlia, e revelou o conteúdo dessa conversa na entrevista a Chico Alves. Leia alguns trechos da entrevista ao colunista do UOL:

O sr. falou com algum dos familiares de Adriano?

A esposa dele me ligou aos prantos, dizendo que tinha absoluta certeza de que isso tinha sido uma ação orquestrada para matá-lo e não para prendê-lo, tanto é que ele disse a ela que não estava armado. Ela esteve com ele há alguns dias e ele não estava armado. Estava fugindo, mas sem capacidade de resistência. Ela estava aos prantos, completamente desnorteada.

O que levou Adriano a chegar a essa conclusão?

Nas palavras dele, seria uma espécie de “queima de arquivo”. Mas não perguntei nem quem teria interesse nisso e nem quais seriam as informações que ele deteria. Não julguei conveniente esticar essa conversa. Mas ele disse claramente que temia pela própria vida, por ter receio de uma “queima de arquivo”.

O sr. vai comunicar isso às autoridades?

Tenho um dever moral de comunicar isso aos órgãos de apuração. Me parece absolutamente necessário que se faça uma apuração rigorosíssima para saber se isso foi de fato uma resistência ou um extermínio. Nem a pessoa mais procurada de todo o mundo ou de todo o país pode ser morta de uma forma injustificada, como pelo menos esse dois relatos apontam ou sugerem. Meu dever derradeiro como defensor do Adriano seja pedir apuração rigorosíssima pelos órgãos de direito.

Se Adriano era o que a imprensa dizia, uma máquina de guerra, é muito improvável que ele dando resistência ali não tivesse matado ou ferido algum policial. É preciso uma perícia no local para que se diga se de fato ocorreu dessa forma. O auto de resistência nós conhecemos bem como funciona. Vou fazer contato com as corregedorias do Rio e da Bahia e com o Ministério Público.

Só uma investigação rigorosa pode afastar todas as suspeitas. A assessoria de imprensa do governo do estado da Bahia divulgou duas notas hoje, e não faz menção à possibilidade de queima de arquivo. Pelo contrário. Diz que Adriano reagiu à prisão e, por isso, foi morto.

Disse, no entanto, que a operação foi conduzida pela polícia do Rio de Janeiro. O papel dos policiais da Bahia teria sido apenas o de apoiar a ação.

Tudo muito estranho.