Esqueça Salomão: o templo de Edir Macedo é um tributo a um vendedor excepcional

Atualizado em 1 de agosto de 2014 às 19:04
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O Templo de Salomão, erguido por Edir Macedo em homenagem a si mesmo, marca uma nova fase em sua carreira de religioso — e, sobretudo, de vendedor excepcional.

É um símbolo de seu triunfo e de sua corporação, a Universal. Surge também num momento em que, de acordo com o IBGE, a organização cede fieis para outras denominações neopentecostais.

A inauguração do monstrengo contou com a presença de Dilma, Temer, Alckmin e outros políticos, numa demonstração de prestígio. O gigantismo da coisa impressionou os convidados: 100 mil metros quadrados de área total, 54 metros de altura, pedras importadas de Hebron, oliveiras do Uruguai, capacidade para 10 mil pessoas, uma arca de ouro nos moldes da que supostamente existia no primeiro templo — destruído, segundo a tradição, por Nabucodonosor em 586 a.C.

No bestialógico oficial, a construção se baseou em “orientações bíblicas”. O arquiteto Rogério Silva de Araújo afirma que os dados foram retirados de passagens do Velho Testamento e de “estudos realizados em Israel”. O prédio tem um selo de sustentabilidade, que não quer dizer nada, mas está lá. Tudo por 680 milhões de reais (sendo que 35 milhões foram economizados com um alvará de reforma).

O próprio bispo agora se apresenta de outra maneira. Para combinar com a casa, seu visual se aproxima mais ao de um rabino. Nos cultos, usa um talit (o manto ritual do judaísmo) e um solidéu. Deixou crescer uma barba de profeta.

Nem Salomão, nem Davi, nem Moisés: a figura mais apropriada a uma analogia com Macedo é a de um homem de negócios próspero. Edir Macedo é o Lobo de Wall Street dos evangélicos e seu templo é o iate que provava sua ascensão.

O Lobo era o apelido de Jordan Belfort, um investidor que enriqueceu aplicando, primeiro, pequenos e depois grandes golpes em desavisados. Lançou uma autobiografia que virou filme de Martin Scorsese no ano passado. Um picareta carismático que, entre 1989 e 1997, fez fortuna com fraudes na Bolsa.

Belfort era um vendedor extraordinário. Edir é isso, ao fim e ao cabo. Ele pode se vestir de rabino, mas essa permanece sua essência. Um vídeo gravado no fim dos anos 80, numa convenção da Universal, oferece uma amostra de seu talento. Ali estão as fundações do que levaria ao templo em São Paulo.

Diz ele aos pastores:

— Você tem que chegar e se impor: “Ó, pessoal, você vai ajudar agora na obra de Deus! Se você quiser ajudar, amém. Se não quiser ajudar, Deus vai arranjar outra pessoa pra te ajudar. Ou dá ou desce!”

— Você tem que ser o super-herói do povo! Você nunca pode ter vergonha. Não pode ter timidez. Peça, peça, peça! Tem que ser no peito e na raça! E se tiver alguém que não dê, tem um montão que vai dar.

No início do filme de Scorsese, o jovem Belfort encontra-se com seu primeiro chefe, Mark Hanna, que se tornaria uma espécie de guru. Hanna explica sua filosofia:

— Foda-se o cliente. Sua responsabilidade é colocar o dinheiro na mesa. Nós não criamos nada, não construímos nada. O nome do jogo é tirar o dinheiro do bolso do cliente e passar para o seu bolso.

Apanhado pelo fisco, Belfort perdeu o iate, a mansão, a Lomborghini branca e a mulher. O vendedor Macedo, mais esperto, fatura, fatura e ergue uma pirâmide. Perto dele, o Lobo de Wall Street é Lassie.