O delegado Rodrigo Bossi, que investiga em Minas Gerais o esquema que permitiu ao grupo de Aécio Neves perseguir jornalistas críticos e adversários políticos, está sendo constrangido pelo sindicato da categoria, reduto aecista no Estado.
Hoje, ele estará na sede do Sindicato dos Delegados de Polícia de Minas Gerais a partir das 14 horas para se defender de uma acusação inusitada. A entidade se opõe à promoção de 1.200 policiais concedida pelo governo do Estado.
Segundo a acusação, a promoção teria ocorrido como compensação por Bossi investigar o elo que liga a Polícia Civil ao esquema de Aécio e envolve ainda setores do Ministério Público e do Judiciário.
Quem pediu a intervenção do sindicato neste caso é Márcio Nabak, o delegado que conduziu as investigações no período de Aécio Neves/Antonio Anastasia que levaram à prisão o dono de um site e à execração um jornalista e um advogado, que tiveram a casa revirada por mandados de busca, em que foi usado até helicóptero.
Para discutir as promoções, o sindicato convocou assembléia-geral extraordinária. Impressionante. Deve ser a primeira vez na história do sindicalismo mundial, em que uma entidade que defende uma categoria convoca seus filiados para se opor a promoções que representam aumento de salário.
Um sindicato deve lutar para expandir conquistas, nunca suprimi-las.
Em razão disso, para não ser execrado, Rodrigo Bossi pediu para se manifestar na assembleia. Mas, num primeiro momento, soube que não poderia falar. Na entidade, só filiados ao sindicato podem se manifestar, outros não, ainda que pertençam à categoria.
Bossi, então, se filiou.
Para delegados que apoiam Bossi, há um viés político na tentativa de anular as promoções. O argumento do sindicato é que o governador Fernando Pimentel estaria tentando desunir a classe dos delegados.
Mas, para eles, quem faz isso é o primeiro sindicato. O que o governador Pimentel fez foi conceder promoções que estavam paradas.
“As promoções devem ser feitas a cada seis meses, estavam congeladas desde 2015. O governador, então, baixou um decreto e promoveu mais de 1.200 pessoas para regularizar a situação”, afirma um desses delegados, sindicalizado, que pede para não seu nome citado.
O sindicato diz que, para as promoções, não respeitado o rito, que prevê entrevistas com aqueles que serão promovidos, entrevista conduzida por um banca de antigos delegados. Em vez disso, o governador promoveu os delegados de uma lista de nomes enviada pela própria Polícia. A lista era constituída por delegados classificados, ou seja, todos detinham o número de pontos para a promoção.
“O que o governador fez foi respeitar critério objetivo para promoção, o número de pontos, e não dar oportunidades para politicagem na polícia, a partir da interpretação subjetiva da entrevista por delegados antigos da categoria. Nessas entrevistas, a cúpula barra quem quer e promove os apadrinhados”, acrescenta o delegado.
Com a assembleia, o Sindicato realizará uma votação para decidir se irá ou não questionar as promoções na Justiça.
“O que está em discussão, no fundo, não é uma questão de interesse dos delegados, é uma disputa de poder”, diz a fonte.
“Na verdade, o sindicato tenta dividir responsabilidade de barrar as promoções com os delegados filiados, uma vez que isso prejudicaria não somente os 1.200 promovidos, mas todas as promoções que vierem a ser condidas. Se um juiz defere uma liminar suspendendo as promoções, tudo ficará parado até decisão de mérito, ou seja, por anos. Então, esses 1.200 que aguardavam promoção desde 2015 terão que esperar por mais alguns anos, e todos aqueles que esperam ser promovidos no meio do ano, porque o decreto foi idealizado para regularizar a situação, também terão que esperar. Em suma, é a coisa mais ilógica que eu já vi o sindicato fazer, salvo se tiver vinculação política. Eu vejo que essa tentativa vem de um grupo descontente com a chefia e com o governo, que tenta desestabilizar a todo custo, e é esse exatamente o viés político. Por isso, alegam que ‘promoveram petralhas'”.
O motivo da indignação contra o delegado Rodrigo Bossi é outro.
Ele começou a ser perseguido quando tornou-se público o objeto da investigação a respeito do Nilton Monteiro, o delator do Mensalão Mineiro e da Lista de Furnas. Essa denúncia envolve tanto delegados quanto promotores e juízes, que teriam participado de um esquema para silenciar ou desacreditar o delator.
Enquanto Bossi estava investigando corrupção em outras áreas do Estado, não havia perseguição.
O ambiente na Polícia Civil em Belo Horizonte está tenso e Bossi, ao falar, pode convencer os delegados de que a politização do trabalho policial parte de grupos que controlam o sindicato, e não de quem investiga ou apoia a investigação.
Essa assembleia é a oportunidade para os delegados decidirem: fazem uma limpeza ou não em uma estrutura contaminada pelo câncer da corrupção.