“Está presente em todo lugar”: diz diretor da PF sobre o crime organizado

Atualizado em 18 de agosto de 2024 às 9:46
Ricardo Saadi, diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção da Polícia Federal. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Ricardo Saadi, diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção da Polícia Federal, afirmou durante evento em Recife que a organização selecionou grupos específicos para monitorar a relação entre candidatos e as facções nas eleições municipais de 2024.

“A infiltração do crime organizado no estado é cruel”, destacou Saadi, durante painel no Encontro Anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). “O crime organizado, infelizmente, está presente em todo lugar. A função do estado é a de minimizar essa participação”, continuou

O setor de inteligência da Polícia Militar de São Paulo está de olho na participação das facções no financiamento de campanhas eleitorais. Como pontuou Saadi, isso geraria o risco de apropriação da prestação de serviços públicos por elas também. O Primeiro Comando da Capital (PCC) tem uma participação no pleito “muito maior do que se imaginava” e “muito dinheiro”, por ter quadruplicado o lucro com o tráfico nos últimos dez anos.

O diretor também disse durante um painel no evento que a geração de recursos a partir da infiltração das facções no poder público é alarmante. “A partir do momento em que se infiltra, há um desvio de verbas públicas e o estado acaba financiando o crime. Para tentar minimizar isso, o que a gente está fazendo neste ano? Temos grupos especializados, destacados da Polícia Federal, com a missão única e exclusiva de monitorar os candidatos e a eventual relação deles com o crime organizado”, afirmou.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afastou Saadi do cargo de superintendente da PF no Rio de Janeiro, em 2019. Na época, ele alegou “questão de produtividade”. No início do atual governo, Ricardo foi realocado no cargo que ocupa atualmente.

Em julho, relatório entregue ao Ministério da Justiça apontou o Brasil tem atualmente 72 facções criminosas. Para o diretor da PF, esse número é menor. “Cinco, seis? O resto são pequenos grupos, endeusados, entre aspas, classificados como facções. Não são. Isso estimula o pessoal a fazer parte”, disse. “Então vamos criar agora o Bonde do Saadi, mas não é uma facção criminosa”, afirmou, em tom de brincadeira.

Ele apenas considera como facções aquelas que chegam a outros estados e países. “Aquele grupo que atinge o bairro e a cidade, não”, disse. O PCC, por exemplo, tem uma hierarquia centralizada em São Paulo, mas se estendeu e tornou um regulador do crime não apenas no território paulista, mas também em outras regiões do país. “Às vezes, são grupos que, não, necessariamente, são o PCC, mas são regulados e classificados pelo PCC. Acabam seguindo regras e tendo a proteção do PCC”, continuou.

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