Foi tarde.
Foi estupidamente tarde.
Foi tragicamente tarde.
A prisão de Eduardo Cunha deveria ter vindo muito antes. Ele jamais poderia ter conduzido, de mãos inteiramente livres, o processo que levou ao impeachment de Dilma.
Todos os argumentos apresentados agora para sua prisão já estavam detalhados no documento que o MPF de Janot entregou a Teori, no final de 2015.
Não há nada de novo.
E mesmo assim demorou uma eternidade que Eduardo Cunha fosse preso. Um internauta disse que depois que uma velhinha deu sandalhadas em Cunha num aeroporto ficou impossível não fazer nada.
É o humor no meio do caos.
A real coincidência não é com o ataque da brava senhora. É com o crescimento vertiginoso das críticas a Moro mesmo fora da esquerda.
Terá sido um lance de marketing para ele mostrar que não é durão apenas contra o PT? Se sim, foi inútil pelo tempo absurdo que Cunha gozou em liberdade mesmo depois de flagrado com contas na Suíça.
(Não esqueçamos que a denúncia partiu das autoridades suíças, que entregaram numa bandeja os documentos aos pares brasileiros. Moro não tem mérito nenhum nisso.)
Na esquerda, o maior receio é que à prisão de Cunha se siga uma nova onda de brutalidades pseudojurídicas contra a esquerda. O fantasma que mais assusta, aí, é Lula preso.
Ao que tudo indica, é mais fantasia que realidade. Prender Lula é uma operação tremendamente complexa e arriscada para Moro e a plutocracia.
E agora?
Já fervem as especulações em torno de uma delação premiada de Cunha. Que sobrará de Temer e seu governo caso ela ocorra? Nada.
É virtualmente impossível imaginar que um homem com o caráter de Cunha — e com seu fabuloso manancial de informações — aceite resignadamente a prisão enquanto seus ex-companheiros e comparsas se divertem lá fora.
Esta quarta-feira tem tudo para ser o primeiro dia do resto do governo Temer. Será um milagre que Temer aguente se sustentar até 2018.
Veremos em breve.
Mas a questão mais doída em toda esta história é: por que só agora?