Estadão faz malabarismo para esconder alta na avaliação do governo Lula

Atualizado em 6 de fevereiro de 2024 às 20:23
Estadão destaca “queda na avaliação negativa” e esconde avaliação positiva do governo Lula. Foto: Reprodução

Uma pesquisa Atlas Intel divulgada nesta terça-feira (6) apontou que 52% dos brasileiros aprovam o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A avalição negativa do governo, que chegou a 45% em novembro do ano passado, caiu para 39%.

O Estadão, ao publicar a notícia, destacou  “a queda na avalição negativa” numa tentativa de “esconder” a avaliação positiva da gestão Lula usando palavras negativas. Trata-se de uma manobra utilizada pelo jornal para atrelar palavras negativas mesmo a fatos positivos de um governo ao qual ele se opõe.

Em seu livro “Gramática da Manipulação”, de 2014, a linguista Letícia Sallorenzo usa um exemplo similar que explica o que o jornal fez:

Imaginemos a seguinte situação. Uma pesquisa descobriu que a aprovação a hipopótamos subiu, e aquela a rinocerontes caiu. Isso equivale a dizer que a desaprovação a hipopótamos caiu, e que a desaprovação dos rinocerontes subiu, certo? Observe a diferença entre:

18) Aprovação a hipopótamos sobe.

18a) Desaprovação de hipopótamos cai.

18 e 18a dizem a mesma coisa, mas, em 18, a palavra hipopótamos está cercada de duas palavras de semântica positiva (aprovação e subir) e, em 18a, as duas palavras de semântica negativa cercam hipopótamos. As metáforas orientacionais explicadas por Lakoff e Johnson fervilham nos seus neurônios e te dão a sensação (olha a palavra que eu acabei de usar!) de uma informação negativa.

“Mas por que ela está falando de hipopótamos e rinocerontes?”, você deve estar se perguntando. É pra usar dois bichinhos fofos e neutros e você entender a explicação sem nenhum juízo de valor, porque se eu tivesse apresentado a manchete que inspirou esse texto, ela seria:

19) Desaprovação de Lula cai, e de Moro sobe

E você estaria fazendo uma série de julgamentos de Lula e de Moro, o que não iria ajudar em nada na compreensão da explicação. Fato é que temos um bom exemplo de escolhas lexicais em prol da confusão de conceitos.

A manchete 19 tem a ver com uma pesquisa que aponta o percentual de pessoas que aprovam (verbo de semântica positiva) dois personagens atuais da política nacional. Ocorre que o título “aprovação de Lula sobe e de Moro cai” cercaria a palavra Lula com duas palavras de semântica positiva e que também são metáforas orientacionais (aprovação e subir), o que deixaria a palavra Moro cercada com duas palavras antonimamente inversas, negativas.

Conceitualmente, o título publicado pelo Uol (e pelo Estadão conteúdo) não está errado. Se a aprovação de Lula sobe, a desaprovação cai. Mas a semântica negativa e as metáforas orientacionais transmite uma informação contraditória ao mero significado das palavras. Esse ato de escolhas lexicais tem efeito, função e consequência ideologicamente motivados.

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