Em editorial publicado nesta sexta-feira (4), o Estadão finge surpresa com o avanço da pobreza na Argentina sob o presidente Javier Milei, destacando que o ultradireitista vem promovendo um duro ajuste econômico, amargo e necessário para o país sair dessa situação:
Mais da metade da população (52,9%) da Argentina encontrava-se em situação de pobreza no primeiro semestre de 2024, de acordo com um levantamento do Instituto Nacional de Estatísticas e Censo (Indec), o primeiro sob a gestão do anarcocapitalista Javier Milei.
Presidente há menos de um ano, Milei vem promovendo um duro ajuste econômico, amargo e necessário, segundo ele, para que o país saia da decadência econômica de décadas. No entanto, sem sinais de melhora visíveis para a população, além dos efeitos colaterais nada desprezíveis como o aumento da pobreza, as medidas de Milei podem perder o fundamental apoio do Congresso, sem o qual o plano para “salvar” o país acabará, como tantos outros, deixando apenas um rastro de miséria reciclada.
(…) O excêntrico mandatário vem cumprindo o que prometeu: cortes drásticos de gastos e de subsídios, além da desvalorização da moeda, o peso. Mas, se antes Milei afirmava que o ajuste seria complicado e cobraria um alto preço da população, agora já adota a surrada fórmula de torturar números negativos para deles extrair uma realidade mais rósea, culpando administrações anteriores pelo sacrifício que ele impôs aos argentinos. (…)
A pobreza em alta e a falta de perspectiva de dias melhores podem reconduzir os argentinos, acostumados a protestar como poucos povos no mundo, às ruas, embora Milei, para contrariedade do papa Francisco, tenha se cercado de medidas que coíbem manifestações.
Enquanto a pobreza aumenta, a popularidade de Milei cai. Até agora, só a retórica incendiária do presidente segue inabalada. Não parece o suficiente para garantir apoio nem do Congresso nem da população.