“Estamos juntos com você. Não peça desculpa”, disse procurador a Moro após grampo em Dilma

Atualizado em 22 de fevereiro de 2021 às 18:31
O procurador aposentado Carlos Fernando dos Santos Lima (esq), para Sergio Moro: “Estamos juntos” (crédito: divulgação)

O procurador federal aposentado Carlos Fernando dos Santos Lima, ex-membro da Operação Lava jato, deu dicas de comunicação ao então juiz Sergio Moro e recomendou que ele não pedisse mais desculpas por ter vazado um grampo ilegal da Polícia federal de conversas entre a então presidenta Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva. E arrematou: “Estamos juntos com você”, falando em nome de todos os procuradores da Lava Jato.

É o que mostram os diálogos entre as autoridades da Lava Jato periciados pela PF na Operação Spoofing, que foram tornados públicos por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).

Veja, abaixo, os referidos trechos das conversas entre os procuradores por meio de um aplicativo de celular. Elas ocorreram na primeira quinzena de abril de 2016. No final de março do mesmo ano, Sergio Moro “pediu escusas” por cometer o crime de vazar um grampo ilegal feito por policiais federais contra uma presidenta da República.

9 APR 16
• 08:57:20 Mandei esta mensagem para o Moro :
• 08:57:25 Caro. Vou falar como amigo. Você é um mito para muita gente. Nesse atual momento os seus atos de contrição, de reconhecimento de erros, apesar de mostrar humildade e grandeza, produz dois efeitos indesejáveis. De um lado enfraquece seu apoio entre a população em geral, introduzindo uma cunha de dúvida em todas as suas decisões. De outro lado, por você aparentar enfraquecido, você atraí ataques de qualquer urubu, de pessoas desqualificadas, etc… Vamos precisar de uma estratégia de comunicação. E ela passa por fazermos o que sempre foi feito. Operação atrás de operação. Estamos juntos com você independentemente da lava jato. Abraços. Carlos
• 10:44:03 Januario Paludo já mandei para ele também, dizendo que não há “mea culpa” a fazer.
• 10:44:46 acho que o papel de vítima não cai bem para ele.

Crédito: STF

Como se nota, os diálogos, mais um vez, revelam o relacionamento flagrantemente ilegal entre autoridades de acusação e o juiz do processo. Mostra, sem margem para dúvidas, que juiz e acusadores trabalhavam como um time, com estratégias e objetivos comuns.

“Estamos juntos com você” e “Vamos precisar de uma estratégia comum” são duas frases que, ditas de um procurador para um juiz, mostram o tamanho do descaramento dos agentes legais que se mancomunaram para destruir do Devido Processo Legal.

Mostra, também, que procuradores e juiz realizavam operações com prisões preventivas e mandados de busca e apreensão não por desejo de apurar ações criminosas, mas por que se tratava de uma estratégia de comunicação que passava por “fazer operação atrás de operação”.

Desde que o ministro do STF Ricardo Lewandowisk tornou públicos os autos referentes à perícia da Polícia Federal nos diálogos apreendidos com um hacker – entre procuradores e policiais da Lava Jato e, em muitos casos, com a participação do ex-juiz Sergio Moro -, uma série de novas revelações sobre o modo de agir da Lava Jato têm vindo à tona.

Em uma delas, por exemplo, os procuradores comemoram o fato de o ex-juiz ter concedido mandados de busca e apreensão no processo do triplex antes mesmo que a Lava Jato tenha pedido. Em outra, Moro e Dallagnol conversam sobre manter um investigado preso por mais tempo para força-lo a assinar um acordo de delação premiada.