Na manhã desta quarta-feira (9), em mais um capítulo da CPI contra o MST, deputados bolsonaristas arregimentaram ex-moradores de assentamentos da Reforma Agrária para atacarem a luta pela terra no Brasil. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra denuncia tal estratégia e esta CPI, que, desde maio, não conseguiu apresentar provas dos crimes imputados à organização.
Ficou evidente como a base de deputados bolsonaristas usa pessoas pobres para atacar a luta pela Reforma Agrária. Desta vez, resgataram um fato incerto, ocorrido há mais de 20 anos em Goiás, para justificar o discurso de criminalização contra o MST. Assim, lançam uma série de afirmações, apontamentos de crimes, envolvem nomes de militantes, indicam supostas sequelas devido a práticas violentas. Mas, em nenhum momento, apresentam algum inquérito, processo criminal, condenação ou laudo médico atestando sequelas por violências praticadas – apesar da gravidade dos crimes apontados. Mesmo com a seriedade dos fatos apontados e vinte anos decorridos, não temos nenhum militante Sem Terra condenado por tais fatos, o que evidencia a fragilidade das acusações.
Não se pode falar em investigação séria em um Inquérito que não respeita o contraditório, não houve partes diversas. Até agora, somente uma audiência foi realizada com convidados indicados pela base governista. Não é possível dar credibilidade a um inquérito que só ouve um lado. Deputados bolsonaristas distorcem falas de depoentes, induzem a respostas, tudo na intenção de legitimar seus ataques. Em um universo de quase dois milhões de pessoas assentadas pela Reforma Agrária, deputados bolsonaristas usaram, até agora, sete pessoas para tentar respaldar seus discursos contra os movimentos sociais.
Ao atacarem a luta do MST, negam, por exemplo, os mais de 200 médicos formados a partir da luta pela terra, que hoje atuam no SUS. Vedam seus olhos para o fato de que, em 2021, quando fortes chuvas atingiram o sul da Bahia, deixando mais de 70 mil pessoas em situação de emergência, a solidariedade Sem Terra fez com que nossas famílias doassem mais de 120 toneladas de alimentos para os mais necessitados.
Desde que esta Comissão teve início, em maio deste ano, o MST já denunciava os objetivos dela: criminalizar o Movimento, atacar o governo federal e agitar a base social bolsonarista. Daquele momento até agora, foi exatamente para isto que serviu esta CPI.
A falta de seriedade dos deputados bolsonaristas, pouco preocupados em discutir a fundo a Reforma Agrária e as reais mazelas do campo – trabalho escravo, grilagem de terras, desmatamento, queimadas – está levando esta CPI para o seu fim. Ela poderia ser um importante espaço de debate sobre um tema relevante para a sociedade, mas, a sanha criminalizadora bolsonarista impede qualquer tipo de debate sério.
Pelo MST, reafirmamos nosso compromisso com a luta para conquista da terra por nossas famílias. Seguiremos rumo aos nossos 40 anos cientes da legitimidade e seriedade de nossa luta. Não renunciaremos ao debate e à construção de um país melhor.
Esta CPI passará e ficará como uma mancha na história da Câmara dos Deputados. A luta pela Reforma Agrária seguirá!