O presidente do Tribunal Regional Federal da 4a. Região, Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, foi alvo de escracho hoje, em Belo Horizonte.
Estudantes de direito, os mesmos que esculacharam Cristovam Buarque há três meses, queriam fazer o escracho com ele ao vivo — e certamente esperam oportunidade —, mas, para não perder o tempo da piada, os irreverente manifestantes foram até a rua Thompson Flores, famosa na capital mineira, e depositaram uma coroa de flores, onde está escrito:
“Parcial, boquirroto e inconveniente – Proh Pudor!, seus antepassados.”
Proh pudor é uma expressão latina que significa “Que vergonha”.
É uma referência ao que Thompson disse nesta semana, pela segunda vez: quer julgar o ex-presidente Lula a tempo de impedi-lo de se candidatar a presidente, em 2018.
Thompson é de uma família de juristas — o Thompson Flores que dá nome à rua onde foi feito o escracho é um antepassado, ministro do Supremo Tribunal Federal.
Em uma entrevista ao jornal Zero Hora, em julho deste ano, logo depois que assumiu a presidência do TRF4, Thompson Flores contou ser da 18a. geração de magistrados de sua família.
Sendo assim, o primeiro Thompson Flores que vestiu toga vivia mais ou menos há 900 anos, calcularam os estudantes.
Essa foi outro motivo para a piada. Parafraseando Napoleão Bonaparte, no discurso nas pirâmides do Egito, disseram:
Do alto de tamanha estupidez, nove séculos vos contemplam (e enojam)
Para a piada, consideraram que um Thompson jurista se reproduz a cada 50 anos.
“É meio tardio para ter filho, mas os Thompson são meio retardados mesmo”, disseram, de gozação.
Os estudantes de Minas Gerais pegaram o atual jurista da família Thompson Flores pela boca. Antes de declarar que tem pressa para julgar Lula, ele deu entrevista ao Zero Hora, logo depois que assumiu a Presidência do TRF4. Disse exatamente o contrário do que passaria a fazer:
A magistratura tem uma liturgia. Não se deve comentar casos judiciais que estão sob julgamento. O senhor conhece algum nome de juiz da Corte Suprema dos Estados Unidos? Lá eles se preservam tanto, têm uma atuação tão discreta que não vulgariza sua presença e não fala sobre tudo. Um juiz da Suprema Corte tem de falar em momentos fundamentais da nação e em lugares apropriados. Saímos de um extremo de muita discrição para uma superexposição. O tempo vai nos levar para o meio do caminho.
Thompson Flores júnior foi para o extremo e não tem resistido aos holofotes. Logo que o processo em que Sergio Moro condenou Lula chegou ao TRF4, ele deu entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo — aparentemente maquiado e com sua sala alterada para servir de cenário.
Com esse comportamento, na história da família, não será lembrando como o avô, que foi ministro do STF por 13 anos durante a ditadura e ficou conhecido pela discrição.
Há alguns anos, o STF o homenageou e coube ao então ministro Nélson Jobim fazer o discurso.
Jobim lembrou que, quando era ministro, Thompson Flores sênior criticou o Ato Complementar número 2, o pacote de abril. Não fez uma crítica pesada, disse apenas que era desejável o fim das restrições contidas nos atos institucionais. O mais importante, segundo Jobim, é que Thompson Flores sênior sempre usou o cargo com moderação.
“Não se serviu da ditadura para perseguir quem quer que seja. Pelo contrário, impediu o preconceito e o prejuízo”, disse.
O neto vai passar para a história como o jurista que adotou o calendário eleitoral para julgar um dos lideres mais populares da história do Brasil.
É trágico.
Mas, para os estudantes de direito que protestaram hoje em Belo Horizonte, não deixa de ser cômico.
O jurista mereceu o esculacho. Falou demais.