São incessantes as aberrações da vida pós-moderna, e também difícil escolher a pior entre todas, mas os “coachs” estão certamente no top 5. Coach é a prova de que falhamos como humanidade. Mais do que isso: depois de falharmos, resolvemos comprar seguidores no Instagram pra mostrar às pessoas exatamente o contrário do nosso fracasso visível, tentando ensiná-las a “vencerem” (como se soubéssemos) das piores formas e pelas razões erradas.
E se o coach é o câncer da pós-modernidade, não há palavras para o coach de emagrecimento. Aliás, o que explica a necessidade da existência de um “coach de emagrecimento” quando já existem as nutricionistas e educadoras físicas? O coach é, antes de tudo, inexplicavelmente inútil. E o pior é que, ainda assim, não raramente ele ganha muita grana de gente ingênua ou influenciável além do ponto.
Felizmente (ou não?), a única coach de emagrecimento da qual já tive notícias é Maíra Cardi, ex-bbb e companheira de Arthur Aguiar, atual favorito do reality.
Um fato sobre Maíra é que ela está quase sempre na mídia, por uma ou outra razão.
Já foi manchete por ter sido traída 16 vezes por Arthur, por ficar 7 dias sem comer e depois voltar fazendo publipost de remédio pra emagrecer, por armar um xilíque porque o marido resolveu comer um pão. Agora, quebrando todos os recordes no quesito “razões mais ridículas pra virar notícia”, ela ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter após usar em um de seus vídeos a infeliz expressão “estupro alimentar”.
A expressão (que, até onde eu sei, jamais fora cunhada por ninguém), foi empregada para se referir a pessoas que “obrigam” outras a comerem aquilo que não querem. “Existem várias pessoas que sofrem de abusos diferentes, emocionais, físicos, por não respeitarem da vontade dela…”, justificou-se Maira depois da repercussão negativa (por razões óbvias) do tal estupro alimentar.
Bem, eu nunca conheci ninguém que colocasse uma faca no pescoço das amigas pra fazê-las comer uma fatia de torta floresta negra, mas, mesmo supondo que no mundo real (e não no mundo paralelo dos coachs), isso possa existir, não muda o fato de a expressão “estrupro alimentar” ser, além de sem noção, desrespeitosa e muito eficiente na tarefa de banalizar algo tão aterrador quanto o estupro.
Apesar disso – e desculpem-me os fiscais da língua -, não considero que o termo, embora infeliz, seja por si só o maior problema.
Leia mais:
1 – Médico processa Mayra Cardi após ser chamado de “doutor de merd*” por criticar jejum de uma semana
2 – Internautas acusam Mayra Cardi de promover transtorno alimentar a 6 milhões de pessoas
3 – VÍDEO: Coach Mayra Cardi diz que vai fazer jejum de 5 dias para se conectar com Deus
Siga lendo o artigo “‘Estupro alimentar’: discursos como o de Mayra Cardi matam mulheres”
O problema é que uma mulher que passa 7 dias sem comer, endossa gordofobia cotidianamente e considera a submissão a traições e desrespeito um ato de “amor próprio” possa exercer influência sobre milhões de pessoas. O problema, na verdade, está além de Maíra Cardi, está na Indústria à qual ela serve: a indústria do emagrecimento, responsável por milhões de transtornos alimentares e mortes em todo o mundo.
Pessoas como essa “coach de emagrecimento” ganham milhões pra propagarem pseudociência, engatilharem transtornos e destruírem a autoestima de mulheres com conteúdo nocivo e irresponsável.
Eu concordo, honestamente, com quem diz que essa mulher é completamente louca e não merece palco, mas concordo ainda mais quando dizem que conteúdos como este são criminosos e não deveriam passar sem consequências.
Por Nathalí
Participe de nosso grupo no WhatsApp clicando neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link