Ética só para os outros: a jornalista da Veja que plagiou 65 matérias (e até a própria Veja)

Atualizado em 23 de junho de 2015 às 21:24
Joice Hasselmann
Joice Hasselmann

 

Você, repórter, trabalha duro para conseguir furos de reportagem, que são as informações inéditas. Corre riscos e enfrenta interesses de pessoas poderosas. E, como um escritor que respeita os direitos autorais, cita a fonte e o trabalho de outros jornalistas toda vez que fala algo que não é de sua autoria.

Uma jornalista plagia 65 reportagens em seu blog. Ela se torna âncora de um programa de vídeos na internet de uma revista.

Vive clamando contra a corrupção, os petralhas, exigindo ética no Brasil — apesar de ser corrupta. Há algo de podre aí, correto?

A notícia saiu no site do Sindicato dos Jornalistas do Paraná (Sindijor-PR): “Conselho de Ética comprova plágio praticado pela jornalista Joice Hasselmann”. De acordo com a entidade, Joice foi denunciada por 23 profissionais de diversos veículos quando ainda atuava no estado. Em julho de 2014, mais de sessenta matérias foram copiadas sem crédito.

A punição encontrada pelo sindicato foi impedir a entrada da atual apresentadora da Veja.com em seus quadros.

O lado ainda mais patético da história é que o Blog da Joice plagiou um texto publicado na própria Veja, original da Agência Estado e com título alterado. Palavra por palavra.

Os links dos textos copiados estão offline porque Joice Hasselmann agiu para retirá-los do ar. Outras publicações chupinhadas foram Gazeta do Povo, Bem Paraná, G1, entre outras.

Qual foi a resposta de Joice? Culpar o sindicato, a CUT e o PT, é óbvio.

“A escória do jornalismo só podia estar num sindicato ligado a CUT. Minha resposta aos vira-latas: Retournez a la merde!”, escreveu em francês, sabe-se lá por quê (provavelmente não sabe empregar o termo em francês “chier” para xingamento).

A mesma Joice que culpa o PT e agora ameaça processar o Sindijor-PR admitiu o plágio em julho do ano passado. “Lamentavelmente o meu novo auxiliar não seguiu as minhas orientações básicas de dar crédito às matérias de outros veículos e estou tendo esses problemas”, disse no Facebook a um colega que reclamou de suas práticas.

Responsabilizar o estagiário é sempre mais fácil. Mas, quando Joice ainda estava no Paraná, ela pelo menos se desculpava.

Hoje, na Veja, culpa o PT e Lula.

É uma ofensa ao jornalismo e um desserviço aos seus leitores. Qualquer jornalista pode cometer erros e, inclusive, copiar indevidamente conteúdos. Mas pedir desculpas é o primeiro passo para qualquer diálogo civilizado.

Ainda deu carteiradas infantis, afirmando que foi “diretora da CBN, diretora da Bandnews, colunista de política mais influente do Paraná, comandante do colunismo político da Record” e que tem “mais de uma dúzia de prêmios”.

Cargo não é argumento para plagiadores. Muitos dos repórteres que eu conheço, que vão atrás de pauta com sede de vontade, fazem um trabalho muito melhor do que os chefes que atualmente ficam encastelados em seus aquários corporativos.

Ela cometeu um crime contra a propriedade intelectual. Ponto. O DCM, por exemplo, em sua seção Essencial, publica o link original da notícia.

A apresentadora entrou na Veja por indicação do colunista Augusto Nunes, autor do “sanatório geral” e que se dedica a atacar todos os “malfeitos” do PT.

Sua resposta desequilibrada no Facebook atesta suas inseguranças e sua falta de humildade ao assumir erros que já admitiu no passado. Hoje, um orgulho cego grita mais alto, reforçado pelo veículo onde trabalha e o qual representa.

Abaixo, um post do Facebook de Joice em que ela se apropria de uma reportagem da Veja sem citar a fonte. O link remete a uma página não encontrada porque ela apagou tudo.

Senadores mudam regra para reembolsar gasto de assessores em reduto eleitoralPelo texto anterior, a cota se restringia…

Posted by Joice Hasselmann on Quarta, 16 de julho de 2014