O Nobel de Literatura Mo Yan reflete sobre seu passado com uma franqueza simplesmente desconcertante
O texto abaixo foi publicado originalmente no site do jornal China Daily, que autorizou a tradução pelo Diário.
Uma noite antes de receber seu prêmio Nobel na cerimônia em Estocolmo, o escritor Mo Yan falou para estudantes suecos depois de uma apresentação de Red Sorghum (Milho Vermelho), o filme de 1987 que, baseado em seu romance homônimo, o tornou internacionalmente famoso.
Ele disse que assistir ao antigo filme o remetia a sua juventude. “Se eu pudesse desistir de todos esses prêmios e voltar a ser jovem, eu faria isso”, afirmou Mo.
Após o anúncio de que Mo Yan ganhara o prêmio Nobel, uma foto do autor com a equipe de Red Sorghum circulou na internet na China. Na foto, três homens, incluindo o diretor Zhang Yimou, o ator Jiang Wen e Mo, estão nus da cintura para cima ao lado da atriz Gong Li.
Mo disse que a foto foi tirada há vinte e cinco anos, no jardim de sua casa em Gaomi, na província de Shandong. Zhang, 35, era o mais velho; Gong, de 21, ainda era uma estudante.
“Todos envelhecemos agora”, disse Mo. “Naquele tempo, não éramos famosos. Agora, somos famosos, mas somos velhos. Não sou mais capaz de escrever ficções como Red Sorghum, e Zhang nunca vai fazer um filme como esse.”
Zhang pagou a Mo 800 yuans (pouco menos que 300 reais)pelos direitos autorais do livro, o que o fez sentir-se rico. “Em minha terra natal, eu poderia trocar aquele dinheiro por uma vaca. Fiquei feliz ao saber que poderia trocar minha história por uma vaca.”
Ele disse que a produção de Red Sorghum custou 600.000 yuan (cerca de 200.000 reais). “Esse filme, tão barato, tornou-se um clássico. Os filmes de Zhang custam agora centenas de milhões e são criticados”, Mo disse.
Red Sorghun conta a história de uma jovem camponesa que é forçada a casar com o dono de uma destilaria, um homem rico, muito mais velho e leproso. O filme foi um sucesso imediato. “Eu afirmo com orgulho que o filme virou um clássico porque o livro tem qualidade”, disse o romancista.
Hokan Friberg, um professor sueco de mandarim presente à fala de Mo, disse que a primeira vez que viu o filme, em 1988, o considerou surpreendente. “Antes, eu pensava que todos os filmes chineses eram entediantes, e esse filme mudou minha impressão”, disse Friberg. Para ele, o segredo do filme reside na perfeita combinação entre a história de Mo e a direção de Zhang.
Mas e para nova geração, qual o impacto do filme? Uma pista pode ser obtida entre os jovens suecos que viram o filme com Mo em Estocolmo. “É meio lento”, disse Herman Hojsgaard, um garoto sueco de 16 anos.