No último capítulo, achei por bem não incluir Marcos na minha noite divertida com uma amiga. Não temos um relacionamento monogâmico e eu não queria, afinal, os beijos dele. Não queria a sua barba ma minha nuca, não queria a sua língua na minha buceta. Eu queria ela. E eu não faria absolutamente nada que eu não quisesse fazer.
De alguma maneira que jamais tomei conhecimento, ele soube – ou pressentiu, quem sabe – que eu estava na minha casa protagonizando um novo episódio das minhas aventuras eróticas na sua ausência, e, por alguma razão de que jamais tomarei conhecimento – e nem me interessava – ele se enfureceu.
– Por que ele veio aqui sem mim? – disse, referindo a Vicente, o nosso voyeur-escritor.
– Porque esta é a minha casa e eu o convidei.
– Vai se foder.
Aquela frase ecoou na sala como uma navalha afiada e despertou a mulher enfurecida em que me transformo todas as vezes que alguém tenta me dizer o que fazer.
– Eu vou me foder muito. Mas não vai ser com você. Saia daqui agora mesmo.
Ele saiu com passos duros.
“Os homens são mesmo complicados”, pensei.
Voltei-me para os meus visitantes e eles me olhavam, perplexos. Na expressão de Vicente, particularmente, havia um espanto contido e indisfarçável.
Minha amiga, por sua vez, estava nitidamente constrangida. Nos despedimos rapidamente e ela se foi. “Não tem mais clima”, justificou. Lamentei profundamente, mesmo porque é necessário muito mais que um “vai se foder” para destruir o meu clima sexual.
Vicente permaneceu parado, de pé em frente à minha estante, sem a menor ideia do que fazer. Servi duas doses generosas de whisky.
– Vocês são engraçados. Adoram o conforto e a praticidade do sexo casual, mas, quando precisam aguentar as consequências, choram e batem o pé como crianças mimadas. Não tenho nenhuma paciência.
– Eu percebi que não.
Pela primeira vez, olhei realmente para aquele homem. Ele era simpático. Atraente, em certo ponto. Tinha um ar intrigante, um quê de mistério e a leveza que só os anos de experiência proporcionam – como se quase nada pudesse atingi-lo.
Me aproximei o suficiente para olhar fixamente os seus olhos vermelhos.
– Me mostra o que você escreveu, velho safado.
Ele vacilou. Tentou responder, eu percebi, mas nenhuma palavra foi proferida. Me aproximei um pouco mais. Seu hálito cheirava a whisky e cigarro. Eu o queria.
Encontrei o pau inacreditavelmente rígido sob o jeans, tratando de manter os meus olhos fixos nos dele. Quando ele puxou o meu cabelo antes de me beijar, eu compreendi: ele queria desde a primeira vez.
Os anos de experiência, provavelmente, ensinaram-lhe como se beija uma mulher. Seu beijo era rápido, sedento, pouco romântico e muito sensual. Seus gestos eram animalescos e era isso, só isso, que me atraía naquele homem. Eu queria chupá-lo imediatamente, mas não o faria tão cedo. Conduzi-o para o sofá que ainda tinha o perfume dela. Ele congelou repentinamente.
– Pare.
Obedeci, perplexa. Ele não se atreveria a me dispensar, pensei.
– Pare agora mesmo – enfatizou.
[continua]