Este texto foi publicado originalmente na edição impressa de Época que está nas bancas.
UM DOS ARTIGOS MAIS LIDOS, mais comentados e mais compartilhados do site da BBC nos últimos dias foi escrito por uma de suas estrelas, o apresentador Andrew Marr. Marr, que foi colunista da Economist e editor do Independent, saudou o “novo começo” da notícia sob a égide da internet. Aos 51 anos, formado na escola impressa, testado em livros e consagrado na tevê, Marr terminou seu artigo com uma frase expressiva. “Queria ter 20 anos outra vez”, disse ele.
É exatamente o que sinto.
Gostaria de estar começando outra vez a carreira, garoto, na Era Digital. São tamanhas as possibilidades, tantas as diferenças, tão acentuadas as facilidades, que os jovens jornalistas têm uma oportunidade de trilhar um caminho fascinante como jamais antes.
Pesquisas, no tempo do papel, eram feitas com dificuldade. Dependiam de idas a departamentos de pesquisas, os quais, por incrível que pareça hoje, constituíam vantagem competitiva das empresas jornalísticas. Escrever era igualmente complicado: laudas, que os repórteres tinham que decifrar depois de alterações feitas a caneta por editores para rebater o texto final em Olivettis.
O repórter pode entrevistar alguém a 10 mil quilômetros, vendo seu rosto e perscrutando suas expressões, pelo Skype. Se seu inglês precisa de aprimoramento, há na internet cursos de alta qualidade, com vídeos explicativos, muitos deles gratuitos. Testei com aprovação alguns desses cursos ao decidir aprender mandarim, para um projeto profissional de uma temporada em Beijing para cobrir a construção da superpotência do século XXI em seus variados aspectos.
Para o leitor a vida também mudou para melhor. Ele tem acesso gratuito e em tempo real a notícias de todo o mundo. Se está lendo uma informação sobre um astro de música, tem à disposição vídeos em que pode ouvir seus últimos lançamentos. Se quer se inteirar de assuntos como as Damas de Blanco de Havana, verá imagens de suas passeatas de protesto, afinal bem sucedidas como prova a decisão de Cuba de libertar dissidentes presos.
A nova geração de jornalistas tem, ainda, um grau de dependência muito menor em relação aos empregos tradicionais. A tecnologia permite a eles criar, com escassos recursos, voz própria em blogs e sites pessoais que, se tiverem bom conteúdo e atraírem audiência, podem representar uma boa fonte de renda.
Diante das transformações em escala tectônica, muitos jornalistas antigos lamentam o fim da “era romântica das notícias”. Claro que há perdas, como em toda revolução. A chegada das máquinas, na Revolução Industrial, cortou num primeiro momento empregos. Mas as vantagens posteriores compensaram amplamente as perdas imediatas.
O mesmo se aplica ao extraordinário impacto da internet na mídia. Ao contrário de saudosistas, e como Andrew Marr, eu gostaria de ter 20 anos e estar começando agora nesta ocupação incomparável que é o jornalismo.