Eu sou o cara dessa foto. E este é o meu relato

Atualizado em 25 de janeiro de 2015 às 20:40

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O estudante Pablo Cavichini participou do último protesto do MPL em São Paulo. Ele teve uma experiência desagradável com a polícia, e postou seu relato no Facebook. Reproduzimos abaixo.

Um efetivo de dezenas de policias para prender/espancar uma única pessoa, essa pessoa deve ser muito perigosa não?

Não, não é, essa pessoa no chão sou eu, apenas um manifestante. Serão os manifestantes os maiores criminosos do estado e do Estado? É o que parece, então aqui vai um relato de ontem, um relato de uma tentativa de usufruir da minha liberdade de expressão e do direito à livre manifestação.

Peço que antes de comentarem leiam com atenção e descubram quem são os verdadeiros vândalos.

Ontem à tarde fui participar da manifestação contra a tarifa, organizada pelo MPL. Depois de 3 horas de caminhada e quase chegando ao fim do trajeto a polícia interveio. Segundo a PM um rojão foi atirado de um prédio (deve ser mentira) e eles começaram atacar o protesto por este motivo. Ué, uma pessoa que não está participando da manifestação atira um rojão de um prédio e o protesto com mais de 10 mil manifestante é quem paga? Enfim, pagou. Daí pra frente foram as cenas de sempre, bombas pra todo lado, balas de borracha e etc. Começou uma correria e um policial pegou um companheiro, o Rudha Punx, e logo em seguida me apanharam.

Quando fui para o 2.o DP(Bom Retiro) os PMs abriram um processo contra mim, tendo nele acusações de resistência à prisão e luta corporal. Também disseram que atirei pedras, paus e rojões contra os soldados. Gostaria que vissem este vídeo pois imagens valem mais que mil palavras. Agora me digam: onde teve luta corporal aí? Quem em plena consciência sairia na mão com 8 ou 10 PMs?

Fui imobilizado no chão com um mata-leão que quase me deixou inconsciente e fiquei atordoado. Senti uma pessoa me puxando e gritando “vem vem vem” sem sucesso na tentativa de me resgatar. Já estava imobilizado no chão e chegaram mais policiais, e então aconteceu a cena do vídeo, eu caído sendo agredido por uns 8 policiais. Diversas porradas de cassetetes na perna e na cabeça, uma bica nas costas. Um PM pega um skate e bate no meu rosto. Olho pro lado e vejo a cena de outro grupo de PM’s batendo a cabeça do Rudha no chão diversas vezes até abrir o supercílio dele e melar o asfalto de sangue, ele já imobilizado.

Tudo isso aconteceu antes de qualquer vidraça ser destruída, sem motivo nenhum. Se quebraram algo dali pra frente eu não vi.

Já com o meu rosto sangrando eles me algemam e me levam pra calçada, e lá um PM diz: “Agora que você tá sozinho você não aguenta,né?” Com as minhas mãos algemadas pra trás ele me dá dois murros na boca enquanto um segundo PM bate com o cassetete na minha costela e sim, eu que não aguento sozinho. No total, foi um “saldo” de 2 hematomas nas pernas, 1 na costela, 1 em cada braço, tudo a golpe de cassetetes, 1 nas costas que foi resultado de 1 chute, 1 atrás da orelha e a minha cabeça aberta. Tive que raspar parte do cabelo e tomar 4 pontos na cabeça. Meu cotovelo quase foi quebrado e está inchado até agora, se mexer causa muita dor. Se isso foi uma luta corporal eu não sei lutar.

O meu rosto e o do Rudha estavam cobertos de sangue e antes que qualquer mídia pudesse nos fotografar eles limparam o sangue com uma blusa e nos “apresentaram” para os jornalistas. Fizeram isso de uma forma que parecíamos ilesos. Usaram de uma violência totalmente gratuita.

Assim que apareceu uma câmera gritei para que me revistassem e revistassem minha mochila (que possuía dentro apenas minha carteira e meu celular). Não o fizeram e o resultado foi o esperado: cheguei ao 2.o DP e revistaram minha mochila. A mágica acontece: aparecem pedras e garrafas na minha mochila. Forjaram.

Enfim, o vídeo prova que não houve luta corporal e as outras duas acusações do processo foram porque forjaram objetos na minha mochila.

Fui para o 2.o DP e lá me encaminharam para o Pronto Socorro Servidor para cuidar dos ferimentos. Chegando lá havia um manifestante com uma bala alojada na perna. O PM que me escoltava olhou pra ele e disse: “Tomara que você se foda, vai tomar no seu cu, espero que você perca essa perna.”

Fui atendido, tirei raio x e fizeram os pontos na minha cabeça. A parte boa foi que me deram a vacina de proteção contra o tétano que estava atrasada. Depois voltamos para o 2.o DP e de lá me encaminharam pra uma espécie de sede da Fundação Casa, onde colheram minha digitais para verificar se eu tinha passagens, processos e etc. Era um procedimento pra criminosos.

Depois de algumas horas lá fomos para o 2.o DP e nos encaminharam para o IML. Lá um PM ficou xingando a gente quase o tempo todo. Na volta do IML pro 2.o DP (acho que andamos de viatura por SP toda) um policial ficou nos ameaçando, dizendo que ele era vingativo, pra gente tomar muito cuidado.

Gostaria de perguntar pra vocês: isso foi uma abordagem? Uma imobilização? Isso é um exemplo do ótimo trabalho da Polícia Militar do Estado de São Paulo, com um belíssimo preparo, os mesmos que dizem que estão lá para servir e proteger, garantir a segurança dos manifestantes. Quem são vândalos?

Tire sua conclusão.