“Eu votei no Lula”: o argumento do diretor do filme da Lava Jato é um clássico do direitista indigente. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 31 de agosto de 2017 às 8:31
O diretor Marcelo Antunez (esq.) dá instruções ao elenco

Todo mundo tem frieira e uma tia revoltada online que repete as bolsonarices mais grotescas para depois se justificar: “Eu votei no Lula a vida inteira e posso falar”.

É mentira dela, mas isso virou uma espécie de salvo conduto para direitistas indigentes de todas as idades, cores e tamanhos perpetrarem barbaridades.

É como se esse ato eleitoral épico desse à pessoa uma legitimidade inquestionável, um “lugar de fala” especial, como gostam alguns. Nem judeus que passaram por campos de concentração contam assim sua experiência.

O ser humano que votou no Lula e hoje quer matá-lo é um Robinson Crusoé que sobreviveu a um holocausto a imensas, duras penas, para contar sua história.

Às vezes essa tia se transforma no diretor do filme da Lava Jato, Marcelo Antunez.

Antunez deu entrevista chapa branca à Folha defendendo que “é uma ilusão, uma infantilidade” achar que vai controlar as acusações de que a fita “tem lado” (como se houvesse dúvida. Basta ver Moro e o amigo Bretas na pré-estreia, dividindo um saco de pipoca).

Já sai com a cartada: “Na verdade sempre votei em candidatos de esquerda a vida inteira, desde que pude votar”, conta.

“Votei no Lula em todas as vezes que ele se candidatou [rindo]. Votei no PT muitas vezes, mesmo. Eu tive essa esperança em 2002, como todo mundo”.

Infelizmente, deu tudo errado, ele abriu os olhos, acordou na Avenida Paulista, teve uma revelação e é um ser humano superior a serviço da República de Curitiba.

Uma coisa é se decepcionar com os governos petistas e há milhares de razões para isso. Outra é se escorar na balela do “votei nos caras” para barbarizar.

É a versão política para a falácia do racista que se escora no papo de que “meu melhor amigo é negro”.

Os americanos cunharam o termo “friend argument”. É quando alguém quer reivindicar conhecimento ou simpatia — falsos — por um grupo referindo-se aos seus “amigos”.

O “argumento do amigo” é uma das maneiras mais preguiçosas e canalhas de tentar excluir a responsabilidade por endossar um preconceito.

“Minha namorada é negra”, diz o rapaz contando piada sobre a Maju Coutinho. “Olha aqui meu afro americano”, falou Trump durante a campanha.

Antunez já deu usou broche do PT e, portanto, pode realizar uma falsificação, uma peça de propaganda do juiz Sergio Moro e seus cruzados encapuçados de Curitiba que ajuda a emburrecer e inflamar a audiência.

Deus abençoe o Antunez, o Glauber Rocha dos novos tempos, e sua tia. Anauê!