Telegramas da diplomacia dos Estados Unidos, reveladas pelo WikiLeaks, mostram que a Casa Branca estava ciente de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) temia uma possível invasão da Guiana ainda durante o governo de Hugo Chávez na Venezuela, há cerca de 15 anos. Os telegramas vieram à público em 2011. Com informações do jornalista Jamil Chade, do UOL.
Um dos documentos, datado de 15 de janeiro de 2008, revelam um encontro entre diplomatas norte-americanos e o ex-ministro da Fazenda, Antonio Delfim Netto. A Guiana foi um dos vários temas abordados na ocasião.
No telegrama, Delfim Netto é colocado como alguém que precisa ser “estritamente protegido” como fonte de informação.
“Sobre as relações do Brasil com a Venezuela, Delfim afirmou que Lula está preocupado com a agenda de política externa de Chávez, especialmente seu desejo de anexar um terço do território da Guiana”, disse um trecho do telegrama enviado da embaixada dos EUA em Brasília ao Departamento de Estado norte-americano, em Washington.
Segundo os documentos, Delfim Netto retratou as relações entre Brasil e Venezuela como tensas, destacando que Lula tentava “evitar um confronto aberto que poderia causar uma ruptura séria nas relações bilaterais e ter um impacto no continente como um todo”. O ex-ministro caracterizou o petista como alguém que “acredita profundamente na unidade sul-americana”
O político afirmou ser contra a entrada da Venezuela no Mercosul, descrevendo Chávez como “psicopata”, mas enfatizou que Lula não queria “alienar o líder venezuelano”.
Em outro trecho do telegrama, a delegação norte-americana destacou como o ex-presidente e ex-senador José Sarney “expressou preocupações semelhantes com relação aos planos de Chávez para a Guiana”, em conversas com outros diplomatas americanos.
O texto apontou que o político brasileiro “continua convencido de que Chávez está tentando provocar uma guerra com a Guiana pela disputada região de Essequibo, o que seria “ruim para o Brasil, porque o Brasil aceitou o tratado que resolve a questão, e isso reabre o assunto”.
Em outubro de 2009, novos documentos revelaram os planos do Brasil de investir em energia na Guiana, especialmente na área contestada pela Venezuela.
“O Brasil está em negociações com a Guiana para construir uma usina hidrelétrica na região da fronteira entre os dois países, no território disputado entre a Venezuela e a Guiana”, afirmou o documento.
A informação teria sido passada aos americanos pelo então assessor do ministro de Minas e Energia do Brasil, Edison Lobão, ao embaixador Rubem Barbosa em 5 de outubro.