Ex-coordenador da Lava Jato detona Moro, Dallagnol e bolsonaristas: “Prejudicaram”

Atualizado em 5 de março de 2024 às 13:24
Carlos Fernando dos Santos Lima — Foto: Geraldo Bubniak

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, ex-coordenador da Operação Lava-Jato em Curitiba, concedeu uma entrevista ao jornal O Globo sobre o impacto da força-tarefa na política brasileira. Segundo ele, a operação foi “apropriada” pelos bolsonarista e as idas para a política do hoje senador Sergio Moro (União-PR) e do procurador Deltan Dallagnol, ex-deputado federal, foram “prejudiciais” para a Lava Jato.

“Não tenho dúvida de que [a entrada de Moro para a política] prejudicou [a Lava Jato]. Criou um argumento fácil, de modo a jogar tudo para a política. Eu tive uma conversa com o Moro na época, falando das minhas dúvidas quanto à honestidade da proposta do novo governo, porque eu não acreditava no (ex-presidente Jair) Bolsonaro. Achava que, como ministro da Justiça, o Moro teria que se submeter a uma guerra cultural”, disse na entrevista.

Sobre a influência da Lava Jato na política brasileira, o procurador reconheceu que a operação foi apropriada como discurso por movimentos de direita, o que também causou um prejuízo considerável. “Essa identificação não deveria existir, mas existe na mente de muitas pessoas. Auxiliou nesse aspecto a ida do Moro para o Ministério da Justiça”, explicou.

Santos Lima também relembrou o início da operação, destacando que ela teve origem em uma investigação sigilosa envolvendo doleiros, que posteriormente se expandiu exponencialmente.

Deltan Dallagnol e Sergio Moro atuaram em conluio na Lava-Jato. Foto: reprodução

“Ninguém imaginava, naquele momento, que a operação se desdobraria daquela maneira. Logo na colaboração do Alberto Youssef tivemos 17 deputados mencionados. A Procuradoria-Geral da República já estava acompanhando e, a partir daí, se constituiu um grupo de trabalho. O crescimento foi exponencial”, argumentou.

Sobre os possíveis erros cometidos durante a operação, o procurador admitiu que houve uma subestimação da capacidade do Ministério Público em sustentar uma investigação tão ampla diante da pressão política. Ele mencionou que, após as manifestações de rua de 2013, os políticos estavam divididos, mas o ponto de virada ocorreu com a destruição das 10 medidas contra a corrupção por parte do então presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

“Os Estados Unidos estão aí com problemas com investigações simples envolvendo o (ex-presidente Donald) Trump. Imagina o Brasil com investigações envolvendo todos os grandes partidos? Começou com o PT, mas logo se transformou em investigação do PMDB, do PSDB… O crescimento era inevitável, mas causou impacto difícil de suportar a longo prazo”, disse ao Globo.

Quanto ao legado da Lava Jato, Santos Lima afirmou que a operação deixou um importante legado ao expor a corrupção no país, embora seja improvável que algo semelhante ocorra novamente. Ele atribui essa improbabilidade tanto a mudanças legislativas significativas quanto à campanha de intimidação contra procuradores e juízes.

Por fim, ao ser questionado sobre a atuação do STF, Santos Lima mencionou que o Supremo atuou de forma consistente por um longo período, mas pode ser criticado tecnicamente. Ele enfatizou que, embora não seja infalível, o STF deve seguir os princípios constitucionais.

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