Michele Valensise é um embaixador italiano que já trabalhou no Brasil, Alemanha, Líbano, e na União Européia, sendo chefe do serviço de imprensa da Farnesina (Ministério dos Negócios Estrangeiros da Itália). Ele escreveu a coluna ‘Brasil inclinado pela negação de Bolsonaro’ no Huffington Post:
Mais do que um ritmo leve de samba, hoje o Brasil parece se mover nas notas sombrias de um requiem. Segundo país do mundo, depois dos Estados Unidos, em número de mortes do Coronavírus (oficialmente 76.688 para o 16º lugar), o Brasil está pagando um preço muito alto pela linha desconcertante de negacionista que dei riscos impostos pelo presidente Bolsonaro. O contágio continua a se espalhar minuciosamente pelo sul, naquela região com San Paolo, com a capacidade da equipe de saúde de avançar.
A ’emergência’ se manifesta na crescente pobreza, pois é rural e nos Estados do Nordeste, além de ser responsável por enfrentar a pandemia. Os efeitos são dramáticos e sua extensão imprevisível, se você considerar, entre outras coisas, que cinquenta milhões de brasileiros – um quarto da população total – moro em casas privadas de sistemas de esgoto da água atual.
Agora Bolsonaro, também positivo no segundo teste, se confiar a benevolência de Deus e discutir a terapia à base de hidroxicloroquina, como seu amigo Trump. De seu isolamento no palácio presidencial da Alvorada não parece disposto a mudar de idéia. Que as atividades continuam tranqüilamente, “tanto primo que todos teremos que morrer”, ignorando os apelos dos governadores dos vinte e sete estados da Federação, todos a favor de medidas preventivas restritivas. A ciência rejeitada, prefere a providência. Traduzida em termos políticos, a obstinação do chefe de Estado brasileiro significa incompetência, irresponsabilidade e maior polarização do país. Em vez de agregar e dirigir, Bolsonaro divide e desestabiliza, interna e externamente. É uma questão de DNA, não poderia fazer o contrário. Isso poderia continuar até seu mandato expirar em dezembro de 2022?
A gestão desastrosa da crise de Covid, o abandono das políticas de inclusão social e os limites objetivos de sua preparação reduziram, mas não muito, o consenso do eleitorado com o presidente. Sua popularidade é de cerca de trinta por cento. Quando Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff foram demitidos da presidência da República em 1992 e 2016, o consenso pessoal de que ambos gozavam era de quinze por cento. Também por esse motivo, a hipótese do impeachment não parece realista, apesar de mais de uma acusação insidiosa pendente contra ela em um sistema que, em qualquer caso, mantém uma dialética interinstitucional correta entre executivo, legislativo e judicial. O Brasil não é a Venezuela.
Ciente da escolha pragmática de Lula, como presidente, de conquistar os setores mais moderados com uma série de medidas tranquilizadoras (“Lulinha paz e amor”), Bolsonaro tenta ampliar sua base parlamentar para os variados grupos centristas, disponíveis para apoiar em troca de homólogos mais ou menos explícitos. Para ter sucesso, talvez ele precise aliviar seu governo de algum elemento mais ideológico e radical e dar mais espaço aos ministros mais razoáveis, entre os quais soldados bem preparados, paradoxalmente mais flexíveis do que alguns colegas civis.
Absorvido por contrastes e convulsões internas, o Brasil perde ganhos em sua projeção internacional, com autoridade de Cardoso e Lula, agora evanescentes. Os tempos em que o Egito, por exemplo, solicitava ao Brasil, em virtude de sua influência no cenário mundial, realizar os bons ofícios em Shimon Peres em uma das passagens cruciais da disputa árabe-israelense, já se foram há muito tempo. O achatamento propenso do Itamaraty às políticas de Donald Trump desviou o Brasil para um beco sem saída em escala global.
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