Ex-secretário geral do Itamaraty mostra que Guaidó é um fantoche sem poder algum na Venezuela

Atualizado em 27 de fevereiro de 2019 às 13:12
Que alguém te olhe como Guaidó olha o vice dos EUA Mike Pence

POR MIGUEL ENRIQUEZ

O embaixador aposentado Marcos Azambuja, ex-secretário geral do Itamaraty (1990-1992), questionou ontem, em entrevista à rádio Jovem Pan, o reconhecimento de Juan Guaidó como presidente autoproclamado da Venezuela.

Contrário à intervenção militar, Azambuja disse que a legitimidade lhe foi outorgada de forma equivocada.

“Eu não consigo imaginar reconhecimento de governo que não detém nenhum controle eficaz sobre o território ou sobre a população. Não sei se ele pode voltar à Venezuela. Acho precoce esse reconhecimento. Maduro é chefe que tem de ser afastado pela sua própria gente. Ele é nefasto para a Venezuela”, afirmou.

Membro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Azambuja descarta qualquer solução que não seja a via diplomática para a crise venezuelana.

“Diplomacia é apenas o melhor caminho a uma intervenção que você sabe como começa, mas não sabe como acaba. Intervenções, no começo, parecem que resolvem tudo, mas não resolvem quase nada. Importante é exercer pressão para o retorno da democracia”, falou.

Presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Guaidó se proclamou presidente no dia 23 de janeiro, durante uma manifestação da oposição ao governo legítimo de Nicolás Maduro.

Em poucas semanas, tendo como patrocinadores os governos dos Estados Unidos, Colômbia e Brasil, conquistou o apoio de cerca de 50 países, como Canadá, Japão, Argentina e a maior parte dos integrante da União Europeia, como França, Espanha, Alemanha e Inglaterra, entre outros.

No último fim de semana, coordenou, desde a Colômbia, a fracassada operação de “ajuda humanitária”, que pretendia internar no país alimentos e medicamentos fornecido pelos Estados Unidos, à revelia do governo Maduro.

O resultado, além de escaramuças de manifestantes oposicionistas com o exército bolivariano nas fronteiras com o Brasil e com a Colômbia, foi que nem um só caminhão ingressou no território venezuelano no sábado,23, batizado como o “Dia D” da aventura golpista.

Na segunda feira passada, 25, Guaidó participou da reunião do chamado Grupo de Lima, formado por 14 países da América Lativa, em Bogotá, com a presença do vice-presidente americano, Mike Pence, que prometeu novas sanções, principalmente financeira, para asfixiar o regime de Maduro.

Foi mais um revés para Guaidó, que esperava sair da reunião com o apoio explícito do grupo de Lima à intervenção militar na Venezuela. Os “falcões” tiveram suas intenções barradas pela decisão da maioria dos países-membros de insistir na solução diplomática.

Na ocasião, o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, disse que o governo de Jair Bolsonaro acredita que “é possível encontrar uma solução sem qualquer medida extrema para devolver a Venezuela ao convívio democrático das Américas”.

Por enquanto, só restou a Guaidó, que esperava encabeçar uma cortejo de caminhões abarrotados da famigerada “ajuda humanitária”, num cenário de mobilização popular e sublevação das Forças Armadas, retornar de mãos abanando a Caracas.

Segundo Maduro, ele deverá enfrentar um processo na Justiça, por ter desrespeitado a decisão do Tribunal Supremo da Venezuela, que congelou suas contas bancárias e o proibiu de sair do país.

“Ele pode sair e voltar e terá que prestar contas à Justiça, porque a Justiça o proibiu de deixar o país. Ele tem que respeitar as leis”, afirmou Maduro, que acusa o adversário de tentar formar um governo paralelo.

Aparentemente, Guaidó resolveu encarar a ameaça.

Na terça, 27, em entrevista ao canal de TV colombiano NTN24 Guaidó reafirmou que voltará ao país, apesar do risco de ser preso, para “exercer suas funções”, seja lá quais forem as tais funções.

“Um preso não serve para ninguém, um presidente exilado tampouco. Estamos em uma zona inédita. E minha função e meu dever é estar em Caracas apesar dos riscos, apesar das implicações”, bravateou.