No município de Blumenau, o terceiro maior de Santa Catarina, com 362 mil habitantes e a 130 quilômetros de Florianópolis, os organizadores de um acampamento golpista que foi montado em frente ao 23º Batalhão de Infantaria do Exército na cidade, contaram com um “patrocínio” organizado pela agora ex-assessora parlamentar Maria Lúcia Ferreira dos Santos.
Ela trabalhava com a vereadora bolsonarista e pastora evangélica Silmara Miguel (PSD), e foi por meio de “seu trabalho” que os golpistas que gestaram os atos do dia 8 de janeiro ficaram sabendo e acessaram sete ônibus “gratuitos” de ida a Brasília e volta a Blumenau, com direito a alimentação, entre os dias 7 e 10 de janeiro deste ano.
Ferreira dos Santos, ou “Malú”, como é conhecida em meio à militância bolsonarista, também era responsável pela segurança da operação golpista. Assim, nos dias que antecederam ao putsch bolsonarista em Brasília, ela designou outra auxiliar, chamada Manuela Adriano, para alterar o nome do grupo de WhatsApp ligado ao acampamento em frente ao batalhão do Exército, para “Festa Supresa 3“.
A ideia era escapar do mando judicial do STF (Supremo Tribunal Federal) de dias antes, que havia determinado que a operadora do aplicativo tirasse de funcionamento quaisquer grupos que estivessem gestando algum tipo de ataque à democracia. Ou, nas próprias palavras da assessora parlamentar, “para enganar, né,” a Justiça brasileira.
No áudio que é reproduzido abaixo, retirado de grupos de WhatsApp golpistas de Blumenau, a assessora parlamentar (na foto, à direita, ao lado da vereadora Silmara Miguel) explica a manobra e, ainda, cita outros grupos golpistas da cidade que estavam adotando expediente semelhante. Ouça:
A partir daí, com o nome devidamente trocado no grupo e o dinheiro levantado junto aos colaboradores não revelados da assessora parlamentar (o pacote gratuito 1.400 refeições e viagem em sete ônibus para 350 pessoas), Manuela Adriano – que por sinal é frequentadora da mesma igreja em que a vereadora Silmara Miguel é pastora – passou a promover a excursão golpista.
No dia 7 de janeiro, o seguinte áudio foi enviado aos grupos de Blumenau, com a evidente preocupação da organizadora Manuela de ter “mais ônibus” pagos do que manifestantes interessados em embarcar na desventura. Tudo feito nas barbas do Exército, em frente ao 23º Batalhão de Infantaria. Ouça:
A assessora Maria Lúcia voltou à carga após o pedido de sua auxiliar, Manuela Adriano, não surtir o efeito desejado, ou seja, os ônibus continuaram com vagas abertas. No áudio que segue abaixo, “Malú” então insiste, dizendo que um obscuro “apoio de Brasília” surgiu, e se responsabilizou a pagar as 1.400 refeições necessários. Ouça:
Quem em Brasília estava ajudando a assessora parlamentar a juntar dinheiro para a tentativa de golpe, ainda não se sabe. O que, sim, é fato, é que, em Blumenau, um dos patrocinadores da excursão foi o empresário bolsonarista Otto Vieira, colecionador de armas e dono de uma loja de armamentos como pistolas, carabinas, rifles e revólveres. Veja, abaixo, uma imagem do site da loja de armas do empresário, em que ele mesmo posa de arma na mão. E, mais abaixo, vídeo em que Vieira convoca – diretamente do batalhão do Exército – seus conterrâneos a ocuparem os ônibus que ele auxiliava a custear:
Veja, finalmente, abaixo, as mensagens da ex-assessora (ela deixou oficialmente o gabinete da vereadora Silmara Miguel, com direito a festa de despedida, para ingressar em um curso de pós-graduação).