A diplomata de carreira Marcela Magalhães Braga, servindo como ajudante de ordens da então primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), foi aos Estados Unidos em viagem paga pelo escritório financeiro do Brasil em Nova York no dia 30 de novembro de 2021.
O deslocamento se deu sem a presença de sua então assessorada, algo inédito em suas viagens profissionais desde que assumira a função de assessora da esposa de Jair Bolsonaro (PL), e sem que a viagem constasse na lista oficial de deslocamentos realizados pela servidora enquanto ocupava a função.
O caso ocorreu uma semana após a volta ao país do ex-presidente, que chegava de um tour de uma semana aos Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Catar. Na viagem, Bolsonaro foi presentado com um relógio de mesa cravejado de diamantes, esmeraldas e rubis; três esculturas, uma delas feita de ouro, prata e diamantes; e um incensário de madeira dourada. O valor das peças não foi registrado pela Presidência.
Em relatório da Polícia Federal tornado público na semana passada, os investigadores apontam que Marcela Braga seria uma das responsáveis por descaminhar para o exterior (EUA) joias que a família presidencial estivesse disposta a tirar do país.
Em um trecho do relatório policial com transcrições de conversas por aplicativo, inclusive, consta que o então assessor de Bolsonaro tenente-coronel Mauro Cid procurou Marcela Magalhães Braga em janeiro deste ano para que esta o auxiliasse no envio de uma mala para Miami, formando uma equipe que foi apelidada de “tropa da muamba” pela Folha de S.Paulo.
Marcela exerceu o cargo de assessora especial do gabinete pessoal da Presidência da República de 31 de julho de 2020 a 20 de junho de 2022. Ao longo desse tempo, realizou 15 viagens profissionais, pagas pelo poder público.
Dessas, 14 foram em território nacional, acompanhando a então primeira-dama em compromissos políticos pelo país. Depois disso, passou a exercer função comissionada pelo Ministério das Relações Exteriores nos EUA.
::Relembre: Lula exonera amiga de Michelle Bolsonaro que tinha cargo na Flórida::
Veja os documentos demonstrativos abaixo, reproduzidos de página oficial do governo federal.
Como se nota na imagem acima, o órgão solicitante e pagador da viagem do exemplo foi a Secretaria Nacional do Voluntariado, então comandada pela primeira-dama. É este o órgão solicitante na maioria das viagens que fez Marcela Braga no período. Outras foram pagas pela Unidade Gestora do Gabinete Pessoal do Presidente da República, como a que realizou a Balneário Camburiú (SC) em 25 de junho de 2022, acompanhando comitiva presidencial.
Já a viagem que fez a então assessora de Michelle no dia 30 de novembro de 2021 aos Estados Unidos (Orlando, Flórida) foi custeada pelo escritório financeiro do Brasil em Nova York. O pagamento se deu por meio da Nota de Empenho 2021NE010773, responsável pelas despesas relativas a “missões oficiais do presidente da República”, como pode se ver na reprodução abaixo.
A viagem de Marcela Braga aos Estados Unidos sem a companhia de sua ex-assessora é a única a não constar em sua lista oficial de viagens, publicada no Portal da Transparência. Para rastreá-la por meio dos dados públicos constantes em páginas oficiais é necessário buscar na área de remunerações e despesas pagas pela União à diplomata Marcela Magalhães Braga.
Só assim se fica sabendo que Marcela Magalhães Braga esteve dois dias na Flórida no final de novembro e início de dezembro de 2021. Por não se tratar de um documento de itinerário de viagem, não é possível qual linha aérea utilizou ou se fez o traslado por meio de aeronave presidencial. Tampouco consta qualquer motivo a justificar a viagem oficial.