Exclusivo: bolsonaristas planejaram golpe para capturar homem mantido sob cárcere privado em SC

Atualizado em 23 de novembro de 2022 às 9:47
O motorista de frete Rafael, de Bombinhas (SC): mais de quatro horas sob a custódia de bolsonaristas (crédito: reprodução)

O motorista de frete Rafael (seu sobrenome não será divulgado), que foi mantido sob cárcere privado por um grupo de bolsonaristas na BR-101 no último dia 20, em acampamento golpista situado na altura do município de Itapema (SC), viveu quatro horas de pânico e temor pela própria vida sob a custódia dos bolsonaristas.

O DCM teve acesso a mais um vídeo gravado no momento em que teve início o cárcere privado – por volta das 16h do dia 20 – e também conversou com Marcelo Saccardo Branco, advogado da vítima.

Ele conta que seu cliente foi agredido fisicamente (veja vídeo mais abaixo), teve seu telefone celular, sua carteira e a chave de seu carro apreendida por bolsonaristas, foi obrigado a entrar em um automóvel cercado por seus captores e passou a receber ameaças de morte e trotes por telefone que o impedem de trabalhar.

Com medo, ele está deixando nas próximas horas ou mesmo já deixou a cidade onde mora, Bombinhas, vizinha de Itapema, rumo a outro estado da federação.

Do golpe para o cárcere

Rafael é um motorista de frete. Vive de encomendas de trabalho. Ligam para seu celular, contratam um frete, ele vai, com sua perua. Rafael também é uma pessoa com opinião política firme. É de esquerda, votou no Lula, no primeiro e no segundo turno. Seu candidato venceu as eleições.

Na manhã do último dia 20, ele passou pelo acampamento golpista na BR-101 em Itapema. Aproveitou para fazer um vídeo para um grupo de amigos, fazendo piada com os bolsonaristas, dizendo que aquele acampamento servia para que ele pudesse tomar água e café. “Para isso que eles servem, para eu tomar água e café”, fez troça o motorista. Enviou o vídeo aos seus grupos de zap e seguiu o dia de trabalho.

Quando foi lá pelas 15h, recebeu um pedido, para ir buscar e transportar um sofá ali no bairro de Meia Praia, em Itapema, um pouco antes do acampamento golpista para quem sai de Bombinhas. Já foi meio desconfiado. Ao chegar, foi conduzido já de maneira coercitiva para dentro de uma garagem, onde outros amigos do suposto contratante o aguardavam.

Na realidade, porém, não tinha frete algum. A partir daquele momento, teve início o crime de cárcere privado. Rafael foi cercado pelos bolsonaristas, empurrado, agredido, humilhado. Teve seus pertences apreendidos e foi informado – aos 35 segundos do vídeo abaixo – que dali seria transportado de carro até o acampamento. Já o seu veículo seria levado ao mesmo local por um outro membro do bando.

Chegando ao acampamento, ele seria obrigado a se desculpar, pisar em seu próprio boné do MST e balançar uma bandeira do Brasil, tudo registrado em vídeo pelos próprios criminosos, conforme mostrou o DCM.

Após Rafael ter cumprido a sentença determinada pelos bolsonaristas, mais de quatro horas após o início do cárcere, ele teve seus pertences devolvidos, mas com o carregador do celular danificado. Antes que a bateria acabasse e ele não pudesse mais carregar, recebeu dezenas de ameaças de morte e também chamadas para contratação de serviços, muitas delas em tom de gozação ou ameaça, perguntando se ele não gostaria de “carregar mais um sofá”.

“Resultado: ele está impedido de trabalhar. Está com medo de aceitar as chamadas, e deve ter medo mesmo. O transtorno é enorme. Ele é uma pessoa humilde, depende do trabalho para sobreviver, certamente já está sofrendo prejuízos em sua vida”, conta o advogado Marcelo Saccardo Branco.

De acordo com ele, Rafael não quis nem fazer boletim de ocorrência. E quem pode culpá-lo? Como saber se os policiais civis na delegacia de Itapema não seriam mais favoráveis aos criminosos do que à vítima neste caso? “Na hora que colocaram Rafael dentro do carro, ele disse que teve certeza que iriam matá-lo e desaparecer com o corpo”, completou o advogado.

Com medo, Rafael já deixou a cidade

Isso não impede, conforme destaca Saccardo Branco, que as autoridades policiais e do Ministério Público investiguem, processem e prendam os criminosos: “Por se tratar de crime de ação penal pública incondicionada, a polícia tem que dar continuidade na investigação, e o Ministério Público tem que fazer a denúncia, independentemente do Rafael apresentar ou não uma representação judicial contra seus agressores”.

O advogado lembra ainda que seu cliente está à disposição para colaborar com as investigações por meio de teleconferência ou depoimento em distrito policial no município em que estiver. Saccardo Branco afirma também que avalia o momento oportuno para ingressar com uma ação por danos morais e materiais no âmbito civil.

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