Exclusivo: PF investiga chefe da Abin de Temer. Por Ricardo Miranda

Atualizado em 28 de janeiro de 2024 às 18:46
Janér Tesch Hosken Alvarenga, ex-diretor da Abin. (Imagem: Reprodução)

No GSI, antes do general G. Dias, bateu ponto o general Sérgio Etchegoyen. Na Abin, o antecessor de Alexandre Ramagem é um personagem obscuro, mas que ganhará em breve holofotes nas investigações sobre o uso da Agência Brasileira de Inteligência para espionagem ilegal de autoridades.

A Polícia Federal está de olho na gestão de Janér Tesch Hosken Alvarenga, chefe da Abin antes de Ramagem, no governo Michel Temer. Ramagem é o alvo da vez, mas quem abriu as portas para atividades contra autoridades foi Janér, homem que Temer colocou na Abin assim que Dilma Rousseff deixou o cargo.

Antes dele, Dilma e Lula mantiveram, por oito anos, Wilson Roberto Trezza. Janér trabalhou sob as ordens do linha-dura Sérgio Etchegoyen – antecessor do general Marco Edson Gonçalves Dias, o G.Dias -, reinventor do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), colocando a Abin como sua subordinada. Figura relevante, a PF já sabe que Bolsonaro tentou reaproveitar Janér, quando Ramagem assumiu, para atuar em Washington no cargo de Adido de Inteligência. Ele foi vetado pelo Departamento de Estado norte-americano —uma atitude diplomaticamente severa.

Janér Alvarenga foi barrado em 2020, pelos meios diplomáticos norte-americanos, mesmo com as credenciais de ex-diretor-geral da Abin. A operação era tão segura que Janér já havia se mudado com esposa e filhos para os EUA há três meses, alugara uma casa e mantinha contatos profissionais com o embaixador Nestor Foster – amigo íntimo do guru da extrema-direita Olavo de Carvalho -, de quem recebeu a recomendação de manter discrição até que a situação estivesse regularizada. Não foi. Ele acabou tendo de retornar ao Brasil.

Quando foi nomeado na Abin, Janér já tinha três décadas como oficial de inteligência da Abin, e uma passagem sombria como adido de inteligência na Colômbia. Sua missão como diretor nos EUA, conforme brifado, seria estreitar relações com o serviço secreto americano. Janér é um cumpridor de missões – e espionar autoridades era uma delas. Já em 2017, no governo Temer, a Comissão de Direitos Humanos convocou Etchegoyen e Janér para explicar acusações de que estariam espionando o ministro do Supremo, Edson Fachin, e o então procurador Rodrigo Janot. Fachin vinha investigando Temer. Mais tarde, o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, acusou Etchegoyen de mandar a Abin grava-lo. Nas redes sociais, Janér Alvarenga parece andar viajando o mundo nos últimos dois anos: há fotos turísticas em Berlim, na Alemanha, Cascais, em Portugal, Florença e Toscana, na Itália, num cruzeiro na Grécia, em Roma, na Itália, Madri e Granada, na Espanha, e Cabo da Roca, em Portugal.

Sabe-se pouco sobre a curta passagem de Janér pela Abin no governo Temer. Ele tomou posse em 1º de setembro de 2016, um dia depois da presidente Dilma Rousseff ser afastada do cargo, após três meses de tramitação de seu processo no Congresso. Em seu discurso, falou vagamente sobre o fortalecimento da área de segurança cibernética, nada sobre a crise política nacional.

Janér substituiu um colega da agência, Wilson Trezza, que, num fato raro na sua curta história, ficou no cargo por oito anos, um número elevado para uma agência que já teve nove diretores, até o atual Luiz Fernando Corrêa. A Abin foi criada em dezembro de 1999, no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Trezza pediu as contas 24 horas após Temer assumir e uma das razões foi a recriação pelo presidente usurpador do famigerado GSI, formatado por seu chefe, o general Etchegoyen. A partir dali, a Abin reviveu seus tempos de SNI, órgão de espionagem da ditadura.

O fato é que, sem Sérgio Etchegoyen, a volta do GSI e os serviços prestados por Janér Tesch Hosken Alvarenga, não teríamos chegado ao vale-tudo da Abin de Ramagem. Ou seja, sem as preliminares de Temer, Bolsonaro não teria feito a festa.

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