Exclusivo: Vereador golpista do PDT responde por violência política contra mulher em SC

Atualizado em 31 de janeiro de 2023 às 22:32
Vanirto Conrad, vereador pelo PDT em Santa Catarina, foi um dos apontados como tendo envolvimento em atos golpistas. Foto: Câmara Municipal de São Miguel do Oeste

O vereador Vanirto José Conrad (PDT), de São Miguel do Oeste-SC, que foi apontado pela Polícia Civil de Santa Catarina como um dos líderes locais de manifestações golpistas, está respondendo à uma ação penal por violência política contra mulher. O ex-presidente da Câmara Municipal foi denunciado em novembro de 2022 pela também vereadora Cristiane Regina Zanatta (PSDB). De acordo com o documento, ele frequentemente cerceava a palavra de Cristiane e ameaçava sua atuação política.

Vanirto virou notícia após o DCM noticiar com exclusividade que seu nome estava em um relatório elaborado pela polícia como uma liderança local, no Oeste de Santa Catarina, de atos bolsonaristas que não aceitavam o resultado das eleições. Chamou a atenção de nossa reportagem o fato do parlamentar ser filiado, desde 1996, ao PDT, partido que fez oposição ao governo Bolsonaro (PL), que apoiou Lula (PT) no segundo turno e que atualmente compõe o governo federal, comandando o ministério da Previdência Social.

A denúncia da vereadora Cristiane contra Vanirto por violência política, a que o DCM teve acesso, cita várias ocasiões em que o parlamentar, então presidente da Câmara, usou a prerrogativa de controlar as falas na sessão para cercear direitos de Cristiane. “Entre os meses de outubro de 2021 e março de 2022, nas dependências da Câmara de Vereadores de São Miguel do Oeste/SC, o denunciado (…) constrangeu a Vereadora Cris Zanatta (…) em decorrência de sua condição de mulher, com a finalidade de dificultar o desempenho de seu mandato eletivo. (…) Por diversas vezes, o denunciado obstaculizou o exercício da vereança da vítima ao impedir suas manifestações durante sessões legislativas, concedendo-lhe prazo menor de manifestação verbal, além de tê-la constrangido com a possibilidade de criação de uma Comissão de Ética, visando obstar aqueles que tivessem processos em trâmite na Vara do Trabalho de atuarem como vereadores”, afirma o documento.

De acordo com o texto, durante uma sessão em outubro de 2021, Vanirto impediu que Cristiane terminasse sua fala e ordenou que ela “parasse com a folia”, enquanto a parlamentar fazia questionamentos. Em outra sessão, o então presidente da Casa colocou em discussão um “parecer jurídico” que criava um Conselho de Ética, que foi denunciado por outro vereador como sendo uma “caça às bruxas” para atingir Cristiane. Em novembro do mesmo ano, a parlamentar foi impedida por Vanirto de se manifestar após ter sido mencionada de forma desrespeitosa em um debate no plenário, sobre um projeto de sua autoria. Ela teria sido acusada de “jogar para a plateia”, “se fazer de vítima” e “não respeitar o resultado das urnas”. É de praxe nas casas legislativas o político ter direito de se defender quando é citado, ainda mais de forma pejorativa e em relação a um projeto de sua autoria, mas, segundo a denúncia, esse direito não foi respeitado na ocasião. Em outra oportunidade, Vanirto teria permitido que um vereador homem se manifestasse e logo após negado a palavra, nas mesmas circunstâncias, para Cristiane. A ação penal que acusa o pedetista de violência política está protocolada na Justiça Eleitoral de São Miguel do Oeste e aguarda manifestação do juiz.

Um fato curioso, que pode ser uma das razões da suposta perseguição de Vanirto contra Cristiane, é que, em 2014, os dois disputaram as eleições para a presidência da Câmara e Cristiane, então no MDB, foi a vencedora, exercendo o cargo por dois anos.

Além da denúncia por liderar atos golpistas e pela violência política, Vanirto Conrad também é um dos pivôs da possível cassação da vereadora petista (única do PT na cidade) Maria Tereza Capra, que denunciou as manifestações bolsonaristas realizadas no município. Ela foi entrevistada nesta terça-feira (31) pelo DCM Ao Meio Dia, onde contou detalhes sobre o injusto processo de cassação a que está sendo vítima, que será votado na sexta-feira (03). Capra sofreu diversas ameaças de militantes de extrema-direita e precisou sair da cidade para se proteger. Clique aqui para assistir à entrevista completa.

A vereadoras Cristiane Zanatta (PSDB), que denuncia Vanirto Conrad (PDT) por violência política, e Maria Tereza Capra (PT), que pode ter seu mandato injustamente cassado nessa semana. Fotos: Câmara Municipal de São Miguel do Oeste

Procurado pelo DCM ainda em novembro do ano passado, o PDT informou que estava tomando as providências para enviar para a Comissão de Ética os filiados que desrespeitaram a decisão do partido e fizeram campanha para Jair Bolsonaro nas eleições. Na época, o presidente do partido em Santa Catarina, Manoel Dias, afirmou ainda não ter conhecimento do relatório da Polícia Civil que apontava o envolvimento de Vanirto Conrad em manifestações golpistas, mas garantiu que apuraria o caso. Em janeiro de 2023, o PDT tomou a decisão de suspender as atividades partidárias de Vanirto e informou que o caso já estava tramitando na comissão de ética do partido. Em nota enviada ao DCM, a sigla afirmou que “rechaça qualquer movimento que fuja da Democracia e do Estado Democrático e de Direito”.

São Miguel do Oeste, cidade em que o pedetista presidia a Câmara, tem cerca de 40 mil habitantes, é um município no extremo oeste de Santa Catarina, localizado a 600 quilômetros de Florianópolis. A cidade ficou famosa no país quando, no final de 2022, bolsonaristas que realizavam um protesto fizeram o gesto da saudação nazista “Sieg Heil”, em frente a uma base do Exército.

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