O experiente jornalista Moisés Mendes escreve em seu blog sobre como as milícias são abandonadas pela extrema direita. Dá o exemplo da Bolívia, cita o filme da Netflix e pensa o Brasil.
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Extrema direita que abandona seus milicianos
O filme ‘Não olhe para cima’ tem uma situação exemplar do destino de subalternos e bajuladores (incluindo parentes) que se consideram parte da estrutura de poder montada por direita e extrema direita no século 21.
Digo isso e aviso que esse texto é para quem já viu o filme e para quem não liga para spoiler. Porque vou contar uma cena decisiva, para falar do que acontece com os que se acham parte orgânica de governos totalitários e negacionistas condenados à extinção, como foi o de Trump e como é o de Bolsonaro.
Déspotas, mesmo os eleitos, abandonam trastes pelo caminho para salvar a própria pele. Essa é a lição final do filme.
É o que faz a presidente dos Estados Unidos (Meryl Streep), quando foge do fim do mundo e deixa para trás o próprio filho, um personagem escrachadamente inspirado em Carluxo.
Na Bolívia, golpistas civis de 2019 deixaram para trás os comandantes, oficiais e soldadama da Polícia Nacional, que puxaram o golpe com o motim que desencadeou a queda de Evo Morales.
Esta semana, mais 13 oficiais da Polícia Nacional foram expulsos da corporação, por decisão administrativa do comando da organização, e ainda enfrentarão processos criminais na Justiça.
Um dos principais personagens do grupo de 13 golpistas da Polícia Nacional é o major Daniel Capriles. O major fomentava e participava de ações de milicianos civis armados que se autodenominavam Resistencia Juvenil Cochala, de Cochabamba.
O fascista Yassir Molina, líder da milícia, está preso com outros companheiros. Também estão presos o chefe da Polícia Nacional, o general Yuri Calderón, e oficiais envolvidos na organização e liderança do motim e de atos contra o governo eleito.
No total, são 26 os integrantes da Polícia Nacional (que é a PM nacional deles) denunciados por envolvimento em algum tipo de ilegalidade, quando das ações golpistas de 2019.
Perguntem se eles têm o apoio de algum líder civil do golpe. Não têm nada. Os golpistas civis, quase todos com origem na província de Santa Cruz de la Sierra, abandonaram os policiais e os milicianos.
Grupos paramilitares, como os que Bolsonaro imagina criar no Brasil, só funcionam quando seus idealizadores e protetores estão no poder.
Na Bolívia, tiveram força e se sentiram impunes durante o ano em que durou o golpe. Quando o Movimento em Socialismo venceu as eleições, em 2020, e voltou ao poder, os golpistas fardados caíram em desgraça.
Todos os líderes foram encarcerados preventivamente por decisões do Ministério Público e da Justiça. Já foi divulgado à exaustão, mas vamos repetir: estão presos os chefes da Polícia Nacional e os chefes das Forças Armadas.
Todos foram abandonados por políticos, empresários, latifundiários, contrabandistas e mafiosos que organizaram e patrocinaram o golpe.
Candidatos à criação de milícias semelhantes no Brasil devem prestar atenção no caso boliviano. Não esperem que, depois de derrotado e com mais de 30 processos na Justiça, Bolsonaro fique por perto para socorrê-los.
Não haverá socorro nem de Bolsonaro nem dos participantes da estrutura de poder montada pelo sujeito.
Policiais e milicianos não valem nada para a extrema direita boliviana. Com Bolsonaro sem poder, milicianos de verde-amarelo não valerão nada para os fascistas brasileiros.