As celebrações oficiais do 25 de Abril trouxeram à tona a dificuldade que Portugal enfrentará ao lidar com os custos dos crimes da escravidão cometidos em suas ex-colônias, como sugeriu informalmente o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Na última terça-feira (23), Rebelo destacou a responsabilidade do país nos crimes da escravidão transatlântica e da era colonial, sugerindo a necessidade de reparação. Os comentários foram feitos durante um encontro com jornalistas da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal.
“Temos de pagar os custos. Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isto”, disse na ocasião.
No entanto, os três representantes dos partidos de direita e extrema direita, que juntos detêm a maioria de 142 entre 230 deputados no Parlamento, aproveitaram seus discursos para atacar o presidente e desconsiderar uma possível votação de propostas de reparação na Assembleia.
Vale destacar que o descarte da responsabilização pelo tráfico transatlântico de milhões de escravos para o Brasil e pelos crimes cometidos durante a era colonial é um ponto comum entre a direita tradicional e a extrema-direita.
O deputado André Ventura, presidente do partido de ultradireita Chega, fez o ataque mais contundente e exigiu uma retratação do presidente, conforme informações com a coluna Portugal Giro, do Globo.
“O senhor presidente traiu os portugueses. O senhor foi eleito pelos portugueses. Não foi eleito pelos guineenses, pelos brasileiros. Pagar o quê? Pagar a quem? Eu tenho orgulho da nossa história, eu amo este país”, declarou Ventura.
Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, seguiu a mesma linha de pensamento radical: “Senhor presidente, História não é dívida. E História não obriga a penitência. Quem declara ser nossa obrigação indenizar terceiros pelo nosso passado, atenta contra os interesses do país, reduz-se à função de porta-voz de sectarismos importados e afasta-se do compromisso de representar a esmagadora maioria dos portugueses”.
Já Nuno Melo, do CDS – Partido Popular, membro do governo e da coligação de centro-direita Aliança Democrática, que levou à eleição do primeiro-ministro Luís Montenegro em março, considerou o tema controverso.
“No CDS não sentimos necessidade de revisitar heranças coloniais, não queremos controvérsias históricas, nem deveres de reparação que parecem importados de outros contextos. A História é a História. E o nosso dever é o futuro”, ressaltou.
Durante mais de quatro séculos, pelo menos 12,5 milhões de africanos foram sequestrados, transportados à força, principalmente por navios e comerciantes europeus, e vendidos como escravos.
Portugal traficou quase 6 milhões de africanos, mais do que qualquer outra nação europeia, mas até agora não confrontou plenamente seu passado e pouco se ensina sobre seu papel na escravidão transatlântica nas escolas.
Chegamos ao Blue Sky, clique neste link
Siga nossa nova conta no X, clique neste link
Participe de nosso grupo no WhatsApp, clicando neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link