Extrema-direita pode voltar ao poder na Alemanha após 80 anos da queda de Hitler

Atualizado em 31 de agosto de 2024 às 11:30
O líder da AfD na Turíngia, Björn Höcke, em discurso a apoiadores. Foto: Karina Hessland/Reuters

No próximo domingo (1º), o partido “Alternativa para a Alemanha” (AfD), de extrema-direita, pode alcançar o poder nos estados Saxônia e Turíngia, estados que elegem seus Parlamentos. Esta é uma oportunidade inédita para a AfD, que lidera as pesquisas eleitorais, conquistar a primazia nas urnas, quase 80 anos após o fim do regime nazista.

A AfD, conhecida por seu caráter radical e monitorada pelo serviço de inteligência interno da Alemanha, tem seus diretórios na Saxônia e na Turíngia classificados como extremistas.

O partido é acusado de disseminar discursos racistas e xenofóbicos, alegando que imigrantes substituem europeus brancos e que muçulmanos não pertencem à sociedade alemã. De acordo com os serviços de inteligência, a AfD mantém vínculos com grupos neonazistas, principalmente por meio da Juventude Alternativa (JA).

Recentemente, a cúpula da AfD foi associada a planos para deportar milhões de pessoas da Alemanha para a África, o que gerou protestos em todo o país. Apesar disso, a popularidade do partido continua em alta, especialmente no leste da Alemanha.

Protesto contra a AfD em Frankfurt, na Alemanha. Foto: Kai Pfaffenbach/Reuters

Se confirmadas as projeções, a AfD será o partido mais votado em Saxônia e Turíngia pela primeira vez desde sua fundação em 2013. No entanto, as pesquisas indicam que o grupo não deve alcançar 50% dos votos em nenhum dos estados, o que exigirá a formação de coalizões para governar.

As outras agremiações políticas na Alemanha têm evitado alianças com o partido extremista, mantendo um “cordão sanitário” para impedir sua ascensão ao poder. André Brodocz, cientista político da Universidade de Erfurt, afirmou à Reuters que a AfD conseguiu mobilizar eleitores que antes não se sentiam representados: “Aqui na Turíngia, desde 2000, pesquisas mostram que cerca de 20% da população tem visões chauvinistas e extremistas de direita. A AfD incentivou esses eleitores a irem às urnas”.

Levantamentos nacionais indicam que 22% dos eleitores da CDU (União Democrata-Cristã) não concordam com a exclusão da AfD e consideram apoiar uma coalizão com os extremistas, uma proposta que a liderança da CDU em Berlim rejeita firmemente.

Na Turíngia, Björn Höcke, candidato da AfD a governador e figura proeminente do partido, é conhecido por suas condenações por usar o lema paramilitar nazista “Tudo pela Alemanha”.

Se as projeções se confirmarem, a política local poderá depender de uma nova força: a BSW (Aliança Sahra Wagenknecht), de centro-esquerda, fundada em janeiro. A BSW, surgida de um racha na esquerda, apresenta uma postura mais conservadora sobre imigração, o que pode torná-la uma alternativa à AfD.