A resposta que o Facebook deu a duas postagens denunciadas por um internauta prova que a empresa de Mark Zuckerberg não está empenhada em combater fake news nem o discurso de ódio na rede social.
Daniel Miguel, que se apresenta como Daniel Ativista, um militante de extrema direita, publicou um vídeo antigo de alunos em uma performance numa aula de antropologia e mentiu.
“Foi esse tipo de aula que acontecia em algumas universidades durante todo esse tempo de governo do PT”, afirmou. O vídeo mostra alunos imitando primatas.
O primeiro erro: O vídeo é de 2015 e foi gravado em uma aula do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, universidade pública mantida pelo governo do Estado de São Paulo, que nunca teve um petista como titular.
Segundo erro: embora exótica, a performance não pode ser considerada uma atividade não acadêmica. Na época em que o vídeo viralizou, a reitoria da Unicamp explicou que existe liberdade de docência na instituição.
Por ser fake news, o Facebook poderia excluir a publicação, mas, em vez disso, recomendou ao internauta que bloqueasse Daniel Ativista.
“Entendemos que ainda pode haver coisas ofensivas ou desagradáveis para você, por isso queremos que você veja menos conteúdo como esse no futuro.”
Ou seja, fake news não é problema e pode continuar circulando livremente. O mal está nos olhos de quem vê.
O internauta reclamou de uma publicação que claramente estimula o discurso de ódio, publicada pelo mesmo Daniel Miguel. Nela, se vê um homem com uma pistola automática em cada mão, no gesto que simboliza a pomba da paz. No caso dele, acompanhada da frase:
“Pombinha da paz para bandido”.
Informado, o Facebook deu uma resposta que pode ser resumida em outra frase: se está incomodado, bloqueie a pessoa, mas nós não vamos tomar nenhuma providência.
No caso, alegou que, por conta da pandemia, está com menos funcionários para analisar as denúncias. Incrível. Se há uma empresa que sofre menos com a pandemia, é a digital, onde o trabalho remoto pode até ser rotineiro.
Daniel Ativista continua postando fake news e mensagens de ódio mesmo depois da decretação de sua prisão pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, onde ele é investigado por organizar atos antidemocráticos.
Ele foi para a cadeia no dia 23 de junho, para cumprir prisão temporária de cinco dias, mas deixou a cadeia antes, conforme vídeo que divulgou no dia 26.
Depois disso, continuou na mesma linha: usa sua rede social para propagar ódio e espalhar fake news.
O Facebook, por sua vez, também segue na mesma linha, mesmo depois de uma campanha mundial para que grandes anunciantes deixem a rede social, justamente porque esta não coíbe fake news e o discurso de ódio, que inclui manifestações racistas.
Num primeiro momento, Zuckerberg disse que não mudaria por nada a política do Facebook — empresa que é dona também do Instagram e do WhatsApp.
Depois que a empresa perdeu 39 bilhões de dólares em seu valor de mercado, a empresa divulgou comunicado para informar que está constantemente aprimorando seus mecanismos de controle.
Mas, como se viu pela denúncia do internauta, fake news e discurso de ódio continuam circulando livremente pela rede.
Para o Facebook, os incomodados que se retirem.
Não é um comportamento civilizado.