Por Nathali
Impossível esquecer a cena chocante – e ao mesmo tempo patética – da Deputada Carla Zambelli correndo atrás de um jornalista com uma arma empunhada.
O caso aconteceu em 2022, e, embora a cena criminosa tenha sido filmada, Zambelli nunca foi indiciada pelo crime de ameaça (tentativa de homicídio, caso tivesse sido condenada por um juiz (a) sério).
Pois bem, ela não apenas não foi punida pelo ato criminoso, como processou o jornalista e, pasmem, ele foi condenado por difamação.
Imagine uma criatura te perseguir com uma arma na mão e você não poder sequer falar sobre isso publicamente? Imagine ver a morte de perto e ainda ser condenado por difamação? O que são palavras diante de uma evidente ameaça com arma de fogo?
Para o Juiz Fabrício Reali, pouco importa o crime filmado cometido por Zambelli: o jornalista é que merece ser condenado a prestação de serviço comunitário, por ter escrito palavras que “prejudicaram a imagem da parlamentar.”
Como se a imagem de Zambelli ainda pudesse piorar…
Aliás, acreditem, pode.
Sempre pode.
Certa da impunidade reiterada, Zambelli resolveu cometer outro crime, dessa vez inafiançável: ao se referir à deputada petista Benedita da Silva como Chica da Silva (ex escravizada), Zambelli revela que, além de desonesta e emocionalmente perturbada, é também racista.
GRAVE: A deputada bolsonarista Carla Zambelli faz live e se refere à deputada federal Benedita da Silva como “Chica da Silva”, que é coordenadora geral dos Direitos da Mulher da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados. Racistas não passarão! pic.twitter.com/AqZ6n4wWFo
— Seremos Resistência!! (@seremosresisten) July 2, 2024
A deputada já anunciou que processará Zambelli pelo crime (que claramente não foi uma gafe, e sim um insulto intencional), e a parlamentar bolsonarista não perdeu tempo: gravou um vídeo se desculpando.
O racismo não acaba por pedido público de desculpas. O insulto não deixa de doer em Benedita e em todas as mulheres negras que passam por esse tipo de situação todos os dias, e vêem o racismo naturalizado até mesmo pelo próprio poder judiciário.
Se o juiz do caso for novamente o Excelentíssimo Fabrício Reali, quem sabe Chica é que seja condenada?
Chega a ser obsceno que um servidor público do poder judiciário não se envergonhe de uma sentença tão claramente tendenciosa.
Ocorre-me a pergunta: por que Carla Zambelli é tratada como inimputável? Quem tanto protege essa mulher?
No episódio da condenação por publicar notícias falsas sobre o presidente Lula, pagou ridículos 30 mil de indenização. No caso do coitado do jornalista, sequer foi punida. E agora, tendo destilado racismo em plenária, ficará impune novamente?
Em um país sério, ninguém tem coragem de praticar racismo dentro de um parlamento. Mas, no Brasil, existe gente como Fabrício Reali, que utiliza a fé pública que lhe foi concedida para proteger criminosos de colarinho branco, muito certamente por razões políticas.
É preciso dizer que a imparcialidade é apenas um mito: todas as pessoas, juízas ou não, tomam decisões baseadas em seus valores e história de vida, isso é um fato.
E, ao que parece, os valores deste juiz levam-no a proteger seus pares em vez de promover a justiça, conforme seu juramento.
Resta-nos esperar que no caso Benedita da Silva haja um juiz que realmente preze pela justiça, e que a lei se faça cumprir e trate Zambelli com o rigor que ela merece.