A família do ex-presidente Jair Bolsonaro fez uma farra com aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) durante o governo. O clã presidencial participou de eventos privados, como cultos religiosos, e transportou amigos, parentes, pastores e até um cachorro em viagens com as aeronaves públicas. A informação é do Metrópoles.
A lista de passageiros dos voos era mantida sob sigilo e foi revelada junto de um conjunto de mensagens internas. O clã tinha demandas frequentes por jatinhos e chegou a preocupar os militares envolvidos nas missões. Dados do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) mostram que, nos quatro anos de governo, foram 70 viagens da família.
Do total de voos, 54 foram da então primeira-dama Michelle Bolsonaro, 10 do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), e 7 de Jair Renan, o filho 04 do ex-presidente. Os passageiros convidados usavam um grupo de WhatsApp como canal oficial de comunicação mantido pelos funcionários do GSI que providenciavam os jatinhos.
No período, Michelle fez ao menos três viagens para participar de cultos religiosos. Ela requisitava jatinhos para voar de Brasília para o Rio de Janeiro, onde costuma frequentar uma igreja evangélica na Barra da Tijuca. Em uma dessas viagens, ela estava acompanhada de “mais dez pessoas”, segundo mensagem trocada entre militares do GSI.
O pastor Francisco de Assis Lima Castelo Branco, antigo amigo da família, também fez uso de um avião da FAB. Ele decolou da Base Aérea de Brasília com destino ao Rio ao lado de Michelle em 28 de junho daquele ano. O jato usado foi um Embraer 135, que tem capacidade para 14 passageiros. No mesmo voo, também estava Rosimary Cardoso Cordeiro, amiga pessoal da então primeira-dama.
As outras viagens de Michelle em eventos evangélicos no Rio aconteceram em 22 de fevereiro e 10 de maio de 2019. Em agosto de 2022, ela ainda usou um avião da FAB para participar de uma celebração em homenagem ao pastor Márcio Roberto Vieira Valadão, pai de André Valadão, em Minas Gerais. O próprio ex-presidente participou do evento, mas viajou em outra aeronave.
A maioria dos voos (33 de 54) de Michelle apresentam uma finalidade vaga e não indicam quais eventos ela participaria. Nesses casos, os documentos indicam que as aeronaves decolariam “em apoio” à então primeira-dama ou estaria “à disposição” dela.
Os militares mostravam preocupação com o uso rotineiro das aeronaves pelo clã Bolsonaro. Em julho de 2019, um oficial divulgou o link de um voo feito pelo presidente Lula dez anos antes e escreveu, em tom de crítica: “As mesmas coisas feitas por outras pessoas”. O oficial ainda escreveu: “Filho de presidente não pega carona”.
As mensagens foram escritas em um período em que o clã organizada várias viagens de Jair Renan Bolsonaro. Em uma delas, até um dos cachorros foi transportado: Beretta, a cadela de Eduardo Bolsonaro.
Em julho daquele ano, Michelle precisou voltar para casa e um avião saiu de Brasília para buscá-la. Ao mesmo tempo, Jair Renan queria ir ao Rio de Janeiro para visitar a mãe, que mora em Resende, e pegou uma carona no voo que foi buscá-la.
Na ocasião, a cadela de Eduardo entrou na lista de passageiros de última hora. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, foi o responsável por incluir o animal no voo.
Em 10 de julho de 2019, militares do GSI definiram Jair Renan como passageiro prioritário. No grupo onde organizavam os voos, um dos administradores deixou um lembrete: “Não se esqueçam do Renan” e pediram um voo para ele entre os dias 13 e 15.
Não havia voos previstos para o período, no entanto, e um dos militares sugeriu uma solução alternativa: “Ele tem que entrar na sorte de uma contramão”. A ideia era que 04 pegasse carona em algum voo saindo de Brasília para buscar outras autoridades no Rio.
Pouco depois da mensagem, um superior avisou que iria acionar o GC-2, setor da FAB que gerencia o fluxo de voos oficiais, “se até dia 12 não aparecer nada”.
Outros bolsonaristas conhecidos também usaram voos da FAB. O maquiador e amigo de Michelle, Pablo Agustin, foi um deles: ele acompanhou a então primeira-dama em uma visita ao Hospital de Amor de Barretos em outubro de 2019.
Carlos Bolsonaro também levava acompanhantes nas viagens e chegou a transportar um assessor dele na Câmara Municipal do Rio, Rogério Cupti, que nunca ocupou cargo federal. Eles fizeram duas viagens nos aviões da FAB no período eleitoral de 2022, de Brasília para o Rio.
O sargento Murilo José Geromini, investigado por pagamentos de despesas da ex-primeira-dama, também já acompanhou Carlos em viagem. Ele saiu de Brasília para acompanhar uma motociata de Bolsonaro no Rio em maio de 2021.
O capitão Andriely Cirino também acompanhou por três vezes o filho 02 do então presidente. Ele foi lotado no gabinete presidencial e já apareceu relacionado aos planos golpistas de bolsonaristas.
Outros voos da família foram classificadas como viagens de cunho eleitoral. Um deles ocorreu às vésperas do debate da TV Globo em 29 de setembro de 2022, quando Carlos deixou Brasília e foi para o Rio em um avião da FAB. Ele foi acompanhado por uma comitiva de militares, assessores e segurança.