Publicado originalmente no Balaio do Kotscho
POR RICARDO KOTSCHO
Ao mesmo tempo em que a Lava Jato prende Michel Temer e ateia fogo no circo em Brasília, o comandante militar do sudeste, general de Exército Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, está disparando convites no Twitter para a celebração em seu quartel da “Revolução Democrática de 31 de Março”, o novo nome do golpe militar de 1964.
Os fatos estão se sucedendo em tal velocidade que a reforma da Previdência, o pau da barraca do governo, já foi para o espaço, e os três poderes estão em pé de guerra.
E qualquer desatenção pode ser a gota d´água, como Bibi Ferreira cantava maravilhosamente os versos de Chico Buarque, em outros tempos tenebrosos de triste memória.
A única estratégia do capitão aloprado, sustentado nos pilares da Farda & Toga, está cada vez mais escancarada: botar fogo no circo para escapar no meio da confusão.
Com o governo agonizando, antes de completar três meses, para fugir da barafunda que armou por aqui, Jair Bolsonaro agora resolveu dar uma de grande estadista mundial em sua cruzada contra o comunismo na Venezuela.
Como se todos os nossos problemas estivessem resolvidos, o presidente está neste momento em vilegiatura pelo Chile, depois de ir aos Estados Unidos para entregar o Brasil de mão beijada a Donald Trump e, na semana que vem, vai a Israel. O país em frangalhos que espere a sua volta.
Esta semana, ao passar rapidamente por Brasília, entregou a reforma dos militares ao Congresso, que vai aumentar o salário dos generais de R$ 22 mil para R$ 30 mil, entre outros benefícios para a carreira, como a paridade nos vencimentos entre ativos e inativos.
“Um general faz o quê”, perguntou-me a internauta Maria Zélia Oliver no Facebook, em post que publiquei ontem sobre a generosa reforma dos fardados, que revoltou até o PSL, o partido de aluguel do presidente.
Segundo a Constituição, generais devem zelar pela soberania nacional e defender o país contra inimigos externos, mas há controvérsias. Quem é o inimigo, afinal?
No momento, os militares estão ocupando boa parte do Palácio do Planalto e da Esplanada dos Ministérios, para colocar ordem no país, além de traduzir e tentar explicar e o que o capitão queria dizer em seus pronunciamentos e tuitadas.
Em São Paulo, por exemplo, o general Baptista Ramos está ocupado com os preparativos da celebração da “Revolução Democrática” na próxima semana, em que os militares deverão comparecer de uniforme e os civis em traje social, como informa o convite.
Os soldados que cuidem de deixar o quartel um brinco à altura da ocasião.
Fico pensando com que nome batizarão o atual regime daqui a 55 anos.
Vida que segue.