Ministros do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) estão utilizando voos oficiais com aeronaves da FAB (Força Aérea Brasileira) para dar carona a parentes, pastores e lobistas.
Jair Renan, o filho “04” de Bolsonaro, pegou ao menos cinco caronas em deslocamentos solicitados por diferentes ministros. Ele já viajou com o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, em outubro de 2019.
Ainda esteve em três voos da Casa Civil: dois na gestão do general Braga Netto e outro ao lado de Ciro Nogueira (PP), atual ministro. Na viagem mais recente, em julho de 2021, ele até levou um amigo de Brasília a São Paulo.
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Decreto de Bolsonaro
Poucos dias antes de assumir o Palácio do Planalto, o presidente distribuiu uma cartilha com normas e procedimentos éticos. O texto estabelecia quem poderia ou não utilizar as aeronaves. Segundo o mandatário, somente o ministro e a equipe que o acompanha no compromisso tem autorização para fazê-lo.
Para, em tese, endurecer as regras, Bolsonaro também mudou o decreto sobre uso das aeronaves oficiais no começo de 2020.
Contudo, o texto dá margem às caronas ao afirmar que “critérios de preenchimento das vagas remanescentes na aeronave” são definidos pelas autoridades que pedem os voos.
Farra aérea
Recém chegado no governo, o ministro Ciro Nogueira levou ao Rio de Janeiro, em agosto, o seu advogado Marcos Meira. No mesmo voo da Casa Civil estava Davidson Tolentino, então diretor da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba). Ciro, Tolentino e Meira foram mencionados em investigação da Lava Jato, mas o advogado não é denunciado ou réu em qualquer caso.
O pastor Arilton Moura, da Igreja Cristo para Todos, participou de viagem do ministro da Educação, Milton Ribeiro, de Brasília a Alcântara (MA), em maio de 2021. A pasta não explicou se o líder religioso acompanhou a agenda de fato ou só aproveitou o deslocamento.
Em setembro deste ano, o filho do ministro do TCU Augusto Nardes acompanhou o pai em viagem de Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) a Santo Ângelo (RS).
Carona pode?
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM), levou o marido, Caio Dias, em pelo menos oito trajetos desde 2019. Além disso, ela deu carona para eventos do agronegócio a representantes de diversas instituições que fazem lobby no setor. Entre elas é possível citar a Aprosoja, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), o IPA (Instituto Pensar Agro), a Abramilho, a Abraleite, entre outras.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, usou os voos oficiais para levar a esposa e três filhos, além de parentes de outras autoridades, em pelo menos 20 viagens.
A médica Sarita Pessoa acompanhou o marido e ministro do Turismo em pelo menos nove viagens. Ela também esteve em deslocamentos pedidos pela Saúde e pela ministra Damares Alves. Esta já deu carona a Sarita, parentes da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e Agustin Fernandez, maquiador e amigo da esposa do presidente, em voos de ida e volta de Brasília a São Paulo.
Origem dos dados
Os dados sobre as viagens feitas desde janeiro de 2019 foram repassados ao jornal Folha de S. Paulo via Lei de Acesso à Informação.
Os ministérios da Defesa e da Cidadania e os comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica não quiseram informar quem acompanhou os chefes das respectivas pastas em viagens.
Além disso, esses dados também foram omitidos pela Câmara dos Deputados, pelo Senado Federal e pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Os dados de comitivas dos voos de Bolsonaro e do vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), são protegidos por sigilo. Autoridades fora do Executivo também levam parentes em voos da FAB, segundo os dados obtidos pela reportagem.
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