No quarto dia de governo, Javier Milei mostrou as unhas para os trabalhadores, os sindicatos e as organizações sociais argentinas.
Patricia Bullrich, sua ministra de Segurança, anunciou à tarde um pacote com “sanções severas” aos organizadores de manifestações de rua.
Dois atos já estão programados, muito antes da posse do sujeito, para os dias 19 e 20, para que os movimentos sociais demarquem território.
O alvo do governo são os chamados piqueteiros, organizações com forte base popular de esquerda, sem ter necessariamente vínculos com partidos e sindicatos.
Milei quer repressão total, porque não irá aceitar ruas bloqueadas por protestos. As quatro forças policiais federais serão mobilizadas na repressão.
A polícia vai impedir que piquetes da Grande Buenos Aires entrem na cidade. As ruas bloqueadas serão liberadas à força.
Patríiia disse que as polícia não irá parar (certamente com cassetete e gás) enquanto as ruas não forem liberadas.
A ministra afirmou ao anunciar as medidas na TV:
“Não vamos levar em conta a existência de vías alternativas ao trânsito ou à circulação. Isso quer dizer que, se cortarem o trânsito na via principal, libera-se a via principal. Não é porque existe uma rua alternativa que a via principal será bloqueada”.
Mas adiante, advertiu que haverá repressão pesada: “Usaremos a força proporcional à resistência”.
Serão identificados os veículos envolvidos nos bloqueios de ruas, para definição de delitos de trânsito e penais.
Pessoas com máscaras ou disfarces que não permitam a identificação poderão ser presas.
Um juiz de plantão receberá informações em tempo real do governo sobre delitos com danos ambientais e a identificação dos seus autores.
Os organizadores e financiadores das manifestações terão de pagar pelos gastos com segurança pública.
Serão responsabilizados os que levarem crianças e adolescentes que, ao invés de estarem em sala de aula (é o que disse a ministra), poderão estar nas ruas com adultos.
Estrangeiros que participarem das manifestações terão identidades enviadas aos órgãos de imigração, para posterior punição.
O governo fará um cadastro nacional de entidades sistematicamente envolvidas em manifestações de rua.
Os protestos foram marcados para as mesmas datas, 19 e 20 de dezembro, do massacre de 2001 de 38 argentinos pelas forças policiais do então presidente Fernando de la Rúa.
A violência contra manifestações não impediu que o presidente, da União Cívica Radical, fosse derrubado pelos movimentos sociais, interrompendo o mandato em apenas dois anos de governo.
De lá Rúa fugiu da Casa Rosada, no dia 21, usando um helicóptero. É o que pode acontecer com o fascistão amigo de Bolsonaro?
(Não publico nada sobre as reações dos movimentos sociais às ameaças, porque os jornais argentinos estão lentos e não há nada sobre o que dizem os líderes dos movimentos sociais. Compartilho o link para a página do Partido Obrero, que participa da organização das manifestações).
Publicado originalmente no Blog do Moisés Mendes
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