Anônimo é um jornalista que trafega nos corredores do poder em Brasília. Sua identidade está preservada para que ele possa colher mais e melhores informações. É dele o texto abaixo:
Meu texto recente sobre minha suspeita de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, age como um quinta-coluna no governo Dilma merece alguns detalhes – para que não merecer reparos e esclarecimentos depois.
Minha confessa presunção não é isolada, e também pode ser ouvida entre os jornalistas mais vividos que cobrem o Palácio do Planalto nas relações laterais e cotidianas entre repórteres, de um lado, e assessores, parlamentares e burocratas, entre outros agentes de estado, do outro.
Num recente almoço compartilhado entre um repórter plantonista do Palácio e um importante ministro, mais de uma ouviu-se a palavra “babaca” em referência ao colega da Fazenda.
O ministro Levy trabalha para um projeto de País que quer levar o Brasil de volta aos anos 80 e 90 do século passado. Um país endividado e suscetível a qualquer movimento brusco patrocinado pelos grandes especuladores internacionais e seus sócios no mercado financeiro brasileiro. Na merda, mas de acordo com o quer o FMI e as agências classificadoras de risco.
Uma qualidade há que reconhecer em Levy: ele não fica sentado à espera de resultados. Pelo contrário. Durante os últimos meses, para tentar convencer parlamentares de que o Brasil é um paciente terminal – uma de suas mentiras – ele esteve no Congresso mais vezes do que vários de seus antecessores em todo o mandato.
Sua obstinação é obter apoio político para cortes de benefícios previdenciários e programas sociais, colocando de volta na marginalidade essa gentinha que insiste em permanecer miserável e dependente da saúde, educação e segurança pública providas pelo governo federal.
Levy convenceu, em parte – e por uma razão concreta. Muitos cortes pretendidos pela Fazenda nasceram de propostas apresentadas por um deputado ou senador. Muitos desses projetos que elevam os gastos do Poder Executivo foram aprovados por unanimidade do Plenário, dificultando ainda mais o apoio do Congresso.
O diagnóstico alarmante e o receituário recessivo do ministro da Fazenda, portanto, não têm como ser aprovados, apesar do apoio incondicional da indústria de mídia.
Na melhor das hipóteses, excluindo-se a banda minoritária neoliberal do Congresso e os parlamentares que não sabem o que estão fazendo ali, poderá haver acordo em torno de medidas temporais, com hora marcada para começar e terminar.
Atenção, não se trata de paliativo nem mero detalhe: é também sinal de desconfiança sobre a factibilidade do que descreveu o ministro Levy.
Os parlamentares mais importantes e influentes incomodam-se – e muito – com a degradação social provocada por “ajustes” semelhantes ao que pretende Levy nos países mais ricos, embora o caso brasileiro nada tenha nada a ver com a cobertura de rombos que gerou miséria e desemprego na Europa e nos Estados Unidos.
Lá fora, a população foi convocada para tapar o buraco deixado pela irresponsabilidade e ganância de grandes instituições financeiras globais. Para permitir ganhos fabulosos, o mercado foi tomado por “crédito podre”, sem lastro, gerando lucros extraordinários para uma minoria de bancos.
A “exuberância irracional” foi mantida até o limite porque dava lucros fabulosos para todos do mercado. Inclusive para as agências classificadoras de risco de crédito (Standard & Poor’s, Moddy’s e Fitch) – que a tudo assistiam indiferentes e aplaudiam, distribuindo altas notas de confiabilidade até a véspera do início da quebradeira em escala global surgida em 2008.
O mundo que Levy representa nada tem a ver com o governo petista. O modelo de Levy tira da classe média assalariada para dar aos bancos quantias cada vez maiores para pagar os juros da dívida.
Quanto maiores são suas dificuldades para convencer que a produção de miséria é o único caminho para o Brasil enfrentar a crise, maiores têm sido os atrevimentos de Levy perante a presidente da República. Não ter transmitido a informação de que o Brasil havia sido rebaixado pela Standard & Poors’ três horas antes do anúncio oficial da agência é apenas um dos movimentos hostis do ministro contra o governo para o qual trabalha.
O anúncio atabalhoado de aumento de impostos, agravando a crise política, também entra nessa conta. Do exterior, ele soltou as bombas de volta da CPMF e do aumento do Imposto de Renda, transferindo para Brasília maiores explicações e indignação sobre o que era considerado apenas hipótese.
O projeto de Levy desdenha os efeitos danosos para o país, na mesma proporção que privilegia a ortodoxia do modelo econômico que os brasileiros viviam até 2003.
Outra coisa que fortalece a suspeita de quinta coluna. Numa reunião neste final de semana, Levy defendeu reajuste zero para o funcionalismo público federal – politicamente inviável.
Outros fatos corriqueiros, como não dar retorno a telefonemas de Dilma Rousseff ou simplesmente desaparecer, também colaboram para a tese do quinta-coluna instalado no governo.