Com a publicação da carta pela união do que entende por lideranças moderadas, Fernando Henrique Cardoso quer a renúncia dos demais candidatos em torno de Geraldo Alckmin.
É sério.
“Talvez seja tarde, mas a gente tem que fazer algum esforço”, disse ele, segundo reportagem da Folha.
Tudo indica que foi uma jogada eleitoral travestida de interesse público.
Os dois se reuniram no apartamento do ex-presidente em São Paulo, na quarta-feira , e discutiram estratégias que deveriam ser implementadas na campanha tucana.
No dia seguinte, Fernando Henrique publicou o textão no Facebook.
“Sem que haja escolha de uma liderança serena que saiba ouvir, que seja honesto, que tenha experiência e capacidade política para pacificar e governar o país; sem que a sociedade civil volte a atuar como tal e não como massa de manobra de partidos; sem que os candidatos que não apostam em soluções extremas se reúnam e decidam apoiar quem melhores condições de êxito eleitoral tiver, a crise tenderá certamente a se agravar. Os maiores interessados nesse encontro e nessa convergência devem ser os próprios candidatos que não se aliam às visões radicais que opõem ‘eles’ contra ‘nós'”, destacou.
A Folha repercutiu, conforme reportagem publicada hoje:
“Segundo aliados, o ex-presidente tem demonstrado preocupação com o cenário político, que acredita ter se polarizado entre a extrema direita, representada por Jair Bolsonaro (PSL), e o petismo de Fernando Haddad, e queria dar uma ‘contribuição mais ampla’ para o quadro eleitoral”.
É uma jogada política, uma ação de boca de urna, mas poderia ser entendida como falta de lucidez.
Pelo desempenho nas pesquisas, Alckmin e o PSDB se tornaram hoje extremistas.
Estão num gueto, em que eles próprios se colocaram, ao contribuirem para golpear a democracia, com o impeachment de Dilma Rousseff sem crime de responsabilidade que o justificasse.
Tocaram fogo no circo e agora querem se apresentar como bombeiros.
Merecem o desprezo dos demais candidatos e já estão tendo o repúdio dos eleitores.
Até a Folha de S. Paulo, uma versão em jornal do pensamento retrógrado que se apresenta como moderno, admitiu que a carta não tem chance de ser levada a sério.
“Convenha-se, de todo modo, que as candidaturas ao centro têm pouco a oferecer ao eleitorado”, escreveu.
“Largada pelo caminho, a agenda liberal conduzida sob Temer encerrou a recessão, mas sem reativar a produção e o emprego; quanto à oxigenação de práticas políticas, não há mais que retórica pouco crível”, acrescentou, depois de lembrar que tucanos apareceram na lama da corrupção.
Estão sujos, mas Fernando Henrique Cardoso se comporta como se tivesse certeza de que o público não vê.
Precisam tomar uma lição das urnas: mais humildade e menos esperteza.