Em entrevista a Leandro Fortes e Sara Góes no DCM TV nesta quinta-feira (2), o escritor Fernando Morais falou sobre seu novo livro ‘Lula: Volume 1’, biografia do ex-presidente.
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Ele começou discutindo o boicote da mídia à obra que, apesar de já ser um sucesso de vendas, segue sendo ignorada por veículos de grande circulação.
“Isso não me incomoda e, sobretudo, não me surpreende”, afirmou. Ele lembrou que sua obra mais recente, ‘Os últimos soldados da Guerra Fria’, foi detonada pela Folha em uma resenha. “O jornal deu o livro para um sujeito que eu não sabia quem era. Perguntei para meus amigos jornalistas: ‘Quem é esse cara aqui?’. Aí disseram: ‘É um criador de cachorro'”.
O autor disse que a maior parte do texto não falava sobre o livro em si, mas sobre o “inferno” que era Cuba. Ele contou que, no dia seguinte, a editora de cultura da Folha lhe telefonou oferecendo um espaço para que ele rebatesse a resenha.
“A Folha tenta dar a impressão de ser um jornal pluralista. Então, o jornal dá uma enorme matéria sentando o pau em alguém, e no dia seguinte oferece um pedaço para esse alguém responder. Eu me recusei [a rebater a resenha]”, declarou.
“No livro do Lula, está acontecendo a mesma coisa. Segundo a editora e segundo a Amazon, o livro vendeu 10 mil exemplares em quatro dias. A Veja não deu uma única sílaba.”
Ele contou que, no fim de semana, abriu a revista e a biografia aparecia em primeiro lugar na lista dos livros mais vendidos.
“Isso prova duas coisas: primeiro, o que todos nós já estávamos calvos de saber: que é uma revista sem caráter. Em segundo lugar, que aquilo que não interessa a eles não saiu, e o que interessa ao público saiu”, analisou o autor.
“Fecharam a porta dos fundos e eu entrei pela porta da frente.”
Lula e a política
Na conversa com o DCM, o escritor falou sobre a imersão do ex-presidente na política. Dois acontecimentos “produziram o início da conversão de Lula, que era apenas um peão de chão de fábrica, numa pessoa comprometida politicamente”, relatou.
Segundo Morais, o primeiro foi “o trabalho, a compreensão na pele do grau de exploração do trabalhador pelo patrão”.
“Ele descobre a questão do choque entre o capital e o trabalho ali, perdendo o dedinho numa prensa”, disse.
O autor lembrou que o petista apoiou o golpe militar de 1964 “por ignorância e alienação, porque todos os peões eram a favor. Salvo os que eram organizados, os que estavam em partidos políticos”. Ele afirmou que os trabalhadores acreditavam que os militares iriam acabar com a corrupção.
“Lula via aquilo com bons olhos, mas o capeta da contradição já estava instalado na alma dele. Apesar de achar que os milicos poderiam contribuir para melhorar o Brasil, ele tinha dois ídolos: Miguel Arraes e Leonel Brizola, inimigos jurados da ditadura militar.”
A influência de Dona Lindu para Lula
Morais destacou a influência da mãe de Lula, Dona Lindu, para que ele adquirisse uma noção financeira.
“Dona Lindu junta o dinheiro de todos os filhos que trabalham, independentemente do quanto cada um ganha, e redistribui o dinheiro segundo as necessidades de cada um. Parece Marx, mas é Dona Lindu”, conta o autor.
“Ela juntava o dinheiro e pagava o [transporte] coletivo, pagava o aluguel, pagava o açougue… Quando sobrava dinheiro, ela começava a distribuir, não segundo o aporte de cada um, mas segundo a necessidade de cada um.”
De acordo com Fernando Morais, “o caráter de Lula e sua obsessão com o bem alheio são uma herança indissociável da Dona Lindu”.