PUBLICADO NO BALAIO DO KOTSCHO
POR RICARDO KOTSCHO
O circo montado há meses por Bolsonaro na entrada do Palácio da Alvorada foi dividido assim:
- de um lado, o gradil do chiquerinho dos jornalistas, com uma plataforma de microfones, mantendo os repórteres à distância para a “entrevista coletiva”
- de outro, bem ao lado, outro chiqueirinho para o “grupo de apoiadores” de camisas amarelas, que ficam batendo palmas e atiçando o capitão a bater pesado nos jornalistas
Até hoje não entendi como as empresas e os profissionais podem se submeter a isso.
Na manhã desta sexta-feira, foi um festival de baixarias do presidente da República (!), que ficou completamente transtornado quando os repórteres lhe perguntaram sobre o caso Flávio & Queiroz.
Ao ser perguntado por um repórter de O Globo se tinha comprovante do empréstimo de R$ 40 mil que teria feito ao motorista Fabrício Queiroz, ele destrambelhou de vez:
“Oh, rapaz, pergunta para a tua mãe o comprovante que ela deu para o teu pai, tá certo?”
Muito aplaudido por meia dúzia de debilóides que urravam, Bolsonaro se empolgou e partiu para o ataque contra outro repórter:
“Você tem cara de homossexual terrível, nem por isso eu te acuso de ser homossexual. Se bem que não é crime ser homossexual…”
E foi por aí, até virar as costas e sair batendo o pé, indignado.
Se o presidente não se dá ao respeito, as empresas deveriam poupar seus profissionais de participar desse teatro grotesco e exigir mais civilidade nas “entrevistas coletivas”, que mais parecem bate-bocas de mesa redonda de futebol.
Não existe no mundo “entrevista coletiva” com platéia de apoiadores atrapalhando quem está ali para entrevistar o presidente sobre os assuntos quentes do dia.
Eu fui Secretário de Imprensa e Divulgação no começo do governo Lula, durante dois anos, e nunca aconteceu nada parecido a isso.
São testemunhas os repórteres setoristas que cobriam o Palácio do Planalto naquela época, que sempre foram tratados com o maior respeito pelo presidente e por mim.
Às vezes, é verdade, eu tinha que afastar algum microfone ou gravador, de algum repórter mais afoito, da boca do presidente, para colocar ordem na bagunça.
Mas nunca houve ofensa a nenhum profissional e todos tinham condições de fazer seu trabalho, repórteres e fotógrafos.
É preciso dar um basta nessa palhaçada.
Que organizem essas entrevistas no Palácio do Planalto, com regras civilizadas, sem platéia de áulicos e batalhões de seguranças intimidando jornalistas.
Os sindicatos, a Federação Nacional dos Jornalistas e a Associação Brasileira de Imprensa, entidades para as quais eu já fui eleito em outros tempos, deveriam zelar pela dignidade do exercício profissional.
Chega de baixaria!
Vida que segue.