Durante a abertura do Foro de São Paulo, na noite desta quinta-feira (29) em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que é necessário “rediscutir o discurso da esquerda” em todo o mundo. De acordo com o petista, a extrema direita está conseguindo ampliar seu espaço mundial porque se aproveita de símbolos como a família e o patriotismo e propaga fake news.
“É preciso que a gente rediscuta o discurso da esquerda. Muitas vezes, a direita tem mais facilidade do que nós com um discurso fascista. Na Europa, a esquerda perdeu o discurso para a questão da migração”, afirmou o chefe do governo brasileiro, de acordo com o jornal O Globo.
Se tratando da América Latina, Lula afirmou que a esquerda tem que voltar a conversar entre si para disputar os espaços democráticos na região. O político deixou um alerta de que, enquanto isso, a “extrema-direita fascista” está crescendo em todos os territórios.
“Não somos vistos pela extrema-direita fascista como organização democrática. Nos tratam como terroristas. Nos chamam de comunistas, achando que ficaríamos ofendidos por isso. Ficaríamos ofendidos se nos chamassem de nazistas e terroristas”, seguiu o presidente.
O petista, que foi um dos fundadores do Foro de São Paulo, juntamente com o ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, lembrou que o espaço foi criado para que a esquerda latino-americana pudesse se conhecer e articular melhorias para representantes de trabalhadores. De acordo com ele, o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tentou dar um golpe de Estado em seu país, no início dos anos 90, quando ainda era só um militar. Por esse motivo, foi impedido de participar de uma reunião do Foro de São Paulo, em El Salvador. Só foi aceito após se eleger de maneira democrática.
Na visão de Lula, a América Latina, principalmente a América do Sul, viveu seu melhor momento entre 2002 e 2010, quando a esquerda venceu em países como Brasil, Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela. O pernambucano destacou que a região foi palco de expansão das conquistas sociais.
“Normalmente, quando as pessoas chegam à Presidência, elas não ousam participar do Foro de São Paulo e não gostam de ouvir críticas. As mesmas pessoas que aplaudem a gente durante a campanha, muitas vezes são as mesmas pessoas que vaiam a gente, porque não fizemos aquilo que prometemos na campanha eleitoral”, pontuou ele.
O presidente brasileiro disse que a democracia é um bem e deve ser preservada, comparando o exercício democrático a um casamento: “É preciso que a gente aprenda a exercitar a democracia o máximo possível. A democracia é importante, na medida em que se estabelece alternância de poder. É como um casamento, em que marido e mulher fazem concessões um para ou outro”.
Ainda na abertura do Foro de São Paulo, o mandatário ressaltou que é a primeira vez que um presidente governa o Brasil em seu terceiro mandato. Ele brincou também dizendo que, se tivesse juízo, não teria concorrido nas últimas eleições.
“Tenho 77 anos de idade e acho que a velhice não acontece quando a pessoa tem uma causa. As rugas podem aparecer no rosto, mas ela não aparece dentro da consciência. Voltei a governar esse país para restabelecer o processo democrático. A democracia não é um pacto de silêncio. é uma sociedade em movimento. A democracia não pode incomodar a nenhum dirigente”, enfatizou.
Quando falou sobre a derrota de candidatos de esquerda em eleições dos últimos quatro anos em diversos países próximos, inclusive no Brasil, Lula pontuou que, em vez de “ficarmos criticando uns aos outros, precisamos olhar dentro de nós”: “Voltei a governar esse país, porque tenho uma missão. Nós precisamos acabar com a desigualdade no mundo. Não é possível desigualdade na moradia, desigualdade racial, crianças morrerem de fome, enquanto os ricos tentam pagar passagem de foguete ou de submarino”.
Completando 33 anos, o Foro de São Paulo é uma organização que reúne partidos e movimentos esquerdistas. O evento acontece até o próximo domingo (2) em Brasília e conta com mais de 150 delegações da América Latina e do Caribe, além de representantes de países de fora da região, como Estados Unidos, Rússia, Alemanha, Turquia, Espanha e França.