Poderia ser mais uma extravagância de uma influenciadora qualquer, mas o casamento luxuoso de Francesca Maluf Civita em abril significou muito mais do que isso.
O dinheiro que “Cesca”, de 27 anos, ostentou em uma festa suntuosa com o empresário Victor Iglesias na Catedral de Sevilha, na Espanha, vem de seu pai Giancarlo Civita, último chefão da Editora Abril que vendeu a empresa falida após somente cinco anos à frente do grupo.
A Abril foi rifada em 2018 por R$ 100 mil, com R$ 1,5 bilhão de dívidas. As dívidas trabalhistas somaram R$ 77 milhões, de acordo com o site Poder 360.
O pai de Giancarlo, ou “Gianca”, Roberto Civita, morrera em 2013. Por sete décadas, o sobrenome foi sinônimo de poder com títulos como Veja e Exame.
Francesca tem 111 mil seguidores no Instagram, pouco para uma influencer verdadeira, mas o suficiente para mostrar a vida de bilionária fazendo propaganda de marcas chiques de moda. No perfil, há as chamadas “publis”, ou jabás, em resorts de alto padrão na costa leste da África, em praias badaladas do Mediterrâneo, no Caribe — um amontoado de clichês em imagens que fazem questão de esfregar dólares na cara de otários que acham isso importante.
A revista Quem a descreve desta maneira ridiculamente sabuja: “Seu olhar sofisticado e aguçado para tendências contribuiu para desenvolver colaborações com marcas de beachwear e acessórios, entre elas Amir Slama, Aparaitinga e Leal Joias, além de co-participar com marcas como Hood Mood, La Sirène, Satú e Oxto Tennis”.
“Gianca” e seus irmãos Victor e Roberta Anamaria assumiram ao menos 6 empresas offshore em paraísos fiscais. Dessas, três foram omitidas da declaração de bens feita no início do processo que culminou na venda da Abril, em 2018, segundo o Poder 360: Hercules United S.A., nas Ilhas Virgens Britânicas, de Victor e Giancarlo; Stadium Group Ltd., nas Ilhas Virgens Britânicas, de Giancarlo; Rust Holding, nas Ilhas Virgens Britânicas, de Roberta.
A família está no dossiê Pandora Papers, em que líderes atuais e do passado, além de mais de 300 funcionários públicos, aparecem em arquivos de empresas offshore. A riqueza secreta e os negócios de líderes mundiais, políticos e bilionários foram expostos em um dos maiores vazamentos de documentos financeiros já ocorridos.
Influenciadores precisam explicar de onde vem o dinheiro que ostentam de maneira obscena. A Justiça começa se mexer nesse sentido. A “advogada” Deolane Bezerra, por exemplo, passou um tempo na cadeia por envolvimento em esquemas criminosos com as bets. Essencialmente, a diferença entre Deolane e “Cesca” está no sobrenome.