Filho de general da reserva repassou informações para Ramagem sobre operações da Abin no RJ

Atualizado em 21 de fevereiro de 2024 às 8:16
Alexandre Ramagem. Foto: reprodução

O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) recebeu, no ano passado, do oficial de inteligência Victor Felismino Carneiro, filho do general Sérgio Tavares Carneiro, presidente do Clube Militar, informações sobre operações no Rio de Janeiro conduzidas pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), órgão que ele liderou durante grande parte do governo Bolsonaro, conforme informações do jornal O Globo.

Carneiro confirmou ter entregue ao parlamentar uma lista de operações realizadas pela Abin no Rio de Janeiro, incluindo uma estimativa de custos para cada ação. Ele sucedeu Ramagem no comando da Abin de abril de 2022 a dezembro de 2023.

“Entrei em contato e passei informações referentes à operação no Rio, mas não era documento oficial”, disse Carneiro em declaração ao Globo.

No final do ano passado, quando Ramagem recebeu essas informações, a Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI) do Congresso Nacional e a Abin iniciaram uma investigação sobre o uso de recursos da agência durante o governo Bolsonaro para remunerar informantes no Rio de Janeiro. O objetivo era verificar se havia irregularidades na alocação de verbas, o que não foi confirmado.

É preciso desmistificar imagem da Abin', diz diretor da agência em entrevista
Victor Felismino Carneiro. Foto: reprodução

Diante dessa investigação, Carneiro, que ocupou o cargo de superintendente da Abin no Rio de Janeiro durante a gestão de Ramagem, entrou em contato com o deputado, fornecendo detalhes sobre as operações de inteligência realizadas no estado.

“Foi um fato específico. Eu estava na linha de tiro. Por isso, procurei Ramagem”, afirmou Carneiro, justificando que repassou informações a Ramagem apenas para fins de esclarecimento.

Vale destacar que Ramagem está sendo investigado pela Polícia Federal (PF) por suspeita de receber informações da Abin mesmo após sua saída do comando da agência. Durante buscas no gabinete do parlamentar na Câmara, foram encontradas informações que possivelmente têm relação com a Abin. Esse material está atualmente sob análise de peritos.

Quem é Victor Carneiro?

Carneiro tem um histórico militar, tendo sido capitão do Exército por 16 anos antes de decidir deixar a carreira militar em 2010 para ingressar na Abin. Sua atuação inicial concentrou-se em operações no Mato Grosso e em questões de relações institucionais.

No governo Bolsonaro, sua ascensão foi rápida, passando do Centro de Cooperação Policial Internacional para a posição de superintendente no Rio de Janeiro, um bastião político do clã Bolsonaro, e assumindo posteriormente a chefia do órgão. Durante a gestão de Lula, Carneiro atuou na segurança orgânica da agência, sem ocupar cargo de confiança.

Victor Carneiro é o novo diretor-adjunto da Abin no lugar de Ramagem
Victor Carneiro ao lado de militares. Foto: reprodução

A PF começou a investigar Carneiro após seu nome ser mencionado pelo general da reserva Augusto Heleno, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), durante uma reunião no Palácio do Planalto. Nessa reunião, Bolsonaro solicitou aos ministros que intensificassem os ataques ao sistema eleitoral do país.

Heleno relatou ter discutido com Carneiro a ideia de infiltrar agentes da Abin nas campanhas eleitorais, mas expressou preocupação com o risco de esses agentes serem descobertos. Bolsonaro, por sua vez, interrompeu a conversa e pediu para tratar do assunto em particular.

Esses acontecimentos foram registrados em vídeo em 5 de julho de 2022 e foram descobertos pela PF durante uma operação de busca e apreensão na residência do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Embora não tenha sido alvo da operação da PF, Carneiro admitiu ter discutido o assunto com Heleno e afirmou que prestará esclarecimentos à PF. Na última sexta-feira, ele prestou depoimento no inquérito que investiga o uso do programa espião FirstMile pela Abin durante a gestão bolsonarista.

Participe de nosso canal no WhatsApp, clique neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link