Por Moisés Mendes
Enchem uma página, com argumentos variados, as reações ao gesto do jornalista Leão Serva, que avançou sobre o deputado Douglas Garcia, pegou seu celular e jogou longe.
Serva interrompeu a agressão do bolsonarista à jornalista Vera Magalhães, ao final do debate de terça-feira entre candidatos ao governo de São Paulo, e cometeu uma intervenção rara.
As reações ao que ele fez são previsíveis. Acham que agiu certo, ou que não poderia ter reagido com fúria, ou que deveria esperar a contenção dos seguranças, ou seria melhor conversar com o sujeito e que poderia isso e poderia aquilo.
O isso-e-o-aquilo é o que mais se repete. Equivale ao deixa como está. Não te mete em briga de homem com mulher independente e com autonomia, porque algumas feministas não gostam.
Tem sido assim há muito tempo, desde que o então deputado Bolsonaro agrediu pela primeira vez a colega Maria do Rosário, em 2014. Os homens do salão verde da Câmara não se mexeram.
Não se mexem em situações semelhantes. Machões autorizados pela pregação do genocida agridem mulheres anônimas todos os dias.
Machões com mandato agridem mulheres em espaços públicos, em situações virtuais ou analógicas, e assim reproduzem os ensinamentos do líder.
E os outros homens que testemunham as agressões? Os homens do entorno ficam olhando ou se afastam. Tem sido assim.
O milionário Thiago Antonio Brennand, colecionador de armas, agrediu a empresária Helena Gomes numa academia de São Paulo.
Helena foi socorrida por mulheres. O caso ficou famoso, com o vídeo da agressão e do socorro repetido várias vezes na TV, só porque apareceu no Fantástico.
A cena exemplar do destemor e do desamparo feminino é a da policial Pâmela Suelen Silva, viúva do guarda civil Marcelo Arruda, assassinado este ano em Foz do Iguaçu por um bolsonarista.
Também nesse caso um vídeo é a prova. Pâmela enfrenta o agressor, tenta impedi-lo de entrar no clube e ainda se joga contra ele para evitar a morte do marido. E não há nenhum homem para ajudá-la ou protegê-la.
Nessas circunstâncias, os homens são imobilizados pelo terror do fascismo, com desculpas variadas.
Alguns dizem que as mulheres precisam se virar sozinhas, e outros não vão dizer, mas se sabe que estão acovardados.
O gesto de Leão Serva, como impulso acionado pela revolta de ver a colega sendo agredida, tem esse componente que não deveria surpreender. É um homem saindo em defesa de uma mulher.
Nessas situações, deveria ser sempre assim, mas não é. Serva é o único homem no cenário da agressão a agir com imposição física.
O gesto de jogar o celular tem um significado complementar: o jornalista interrompe o uso do aparelho para a fabricação da prova da lacração do agressor de mulheres, como o próprio Serva definiu.
A turma do me-deixa-fora-disso não faria o que Serva fez. A omissão, com as boas desculpas de pretensos pacifistas, vem contribuindo para o avanço do fascismo.
Que não se diga que todos agora agirão como Serva e que a saída é mais do que tirar os celulares, é enfrentar os bolsonaristas no braço.
Não. Mas há na tentativa de proteção à colega ofendida um exemplo de desprendimento em falta.
E o melhor da cena talvez seja a fuga do machão que agride uma mulher e se assusta com a intervenção de um homem. E isso que Serva é bem magrelo.
Barraco no Debate da Tv Cultura:
Deputado estadual Bolsonarento @DouglasGarcia intimida a jornalista @veramagalhaes, no que simplesmente o Diretor de Jornalismo da @tvcultura e apresentador do debate, @leaoserva, pega o celular do brucutu misógino e acaba com a farofada do dep. pic.twitter.com/1CDxIYeD9H— Carlos Almo?? (@carlosalmo) September 14, 2022