Flamenguistas são punidos por segurarem faixa protestando contra os torturadores de 1964

Atualizado em 17 de abril de 2023 às 22:50
Faixa criticando os torturadores da ditadura militar. Foto: Léo Pinheiro.
Torcedores do Flamengo estão sofrendo punições arbitrárias por uma ação realizada durante o primeiro jogo da final do Campeonato Carioca, no dia 1º abril. Antes de a bola rolar, uma faixa com a frase “MORTE AOS TORTURADORES DE 64” foi exibida na arquibancada, em referência aos torturadores e assassinos que atuaram em nome da ditadura político-empresarial brasileira, levada a cabo pelas Forças Armadas no 1º de abril de 1964.
A faixa viralizou nas redes sociais a partir de uma foto do jornalista Léo Pinheiro, repercutindo na mídia nos dias seguintes.
Durante a ação, aclamada pelo povão rubro-negro, que aderiu de forma voluntária à manifestação, chegou ao nosso conhecimento a detenção de dois torcedores, por supostamente estarem segurando a faixa. Eles foram detidos e encaminhados ao JECRIM, onde foi oferecida, de forma totalmente unilateral, as seguintes medidas para um acordo:
  1.  Banimento da presença em jogos do Flamengo (em território nacional) até 31 de dezembro de 2023;
  2. Dias de jogo do Flamengo (em qualquer lugar) os denunciados devem permanecer em suas residências, a contar de 30 minutos antes da partida até o final do segundo tempo;
  3.  Uso de tornozeleira eletrônica (até 31 de dezembro de 2023);
  4. Multa de 300 reais.
Punições que atingem o bolso (multa), a integridade moral (uso de tornozeleira eletrônica por aproximadamente 08 meses) e o coração (a impossibilidade de acompanhar o Flamengo no estádio).
Ao não aceitar a proposta unilateral do MP, foi imposto o uso de tornozeleira eletrônica de monitoramento e afastamento das praças esportivas até dezembro de 2023, como medida cautelar. Além disso, ambos os torcedores respondem um processo criminal aguardando possível condenação.
Torcida do Flamengo homenageia Stuart Angel, que foi torturado e morto pela ditadura. Reprodução Facebook
A percepção é de que o Brasil foge à sua própria história. Esse apagamento e revisionismo habitual do nosso sangrento passado nos impede de avançar. É como diz a frase exposta no Estádio Nacional chileno: “Um povo sem memória é um povo sem futuro”. Compreendemos que ela cabe perfeitamente ao nosso contexto.
A ação realizada reivindica a nossa própria história! E é amparada pela liberdade de expressão. Nos sentimos contemplados com a mensagem, que leva luz a todos os t0rturad0res que já morreram sem a mínima punição. Pelos presos políticos, por todos os mortos e desaparecidos, por todos os sobreviventes e por todos os que resistiram. E a história se repete.
Não cortamos nossas raízes ditatoriais e, por isso, elas estão por aí por toda a parte – estão em cada jovem negro assassinado, estão nas torturas cotidianas dos presídios Brasil afora, estão nas repressões às nossas manifestações.
Pedimos todo apoio aos torcedores neste período do pré-julgamento para que não caia no esquecimento esse capítulo triste da história do Brasil, quando as FFAA se viraram da forma mais cruel contra o próprio povo brasileiro – tendo, em seu histórico, matado mais nacionais que estrangeiros.
Todo apoio é bem-vindo! Principalmente de movimentos sociais, jornalistas e personalidades que se voltam contra a barbárie dos anos de chumbo
Publicado originalmente no Facebook do Flamengo Antifascista

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