A situação do filho do presidente Jair Bolsonaro, o senador eleito Flávio Bolsonaro, piora a cada raiar do sol.
Não bastassem as mais do que evidentes ligações com o esquema de lavagem de dinheiro do seu ex-assessor Fabrício Queiroz, a informação de que o então deputado estadual havia empregado em seu gabinete a mãe e a mulher de um dos procurados em operação contra milicianos do Rio, traz à sua já extensa ficha corrida de investigação uma suspeita ainda mais grave.
Ferrenhos defensores de assassinos fardados, não é de hoje que a família Bolsonaro incentiva e enaltece as atividades criminosas de policiais envolvidos em grupos de extermínio em todo o país.
Essa, no entanto, é a primeira vez que é descoberta uma ligação tão próxima entre um Bolsonaro e um, agora foragido da justiça, líder miliciano de alta periculosidade.
O Capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, cujo paradeiro neste momento é desconhecido, foi denunciado na Operação Intocáveis deflagrada na manhã desta terça (22) por crimes de grilagem de terras e formação de milícia na comunidade de Rio das Pedras, uma das inúmeras que tomaram conta da capital fluminense e, curiosamente, a mesma em que Fabrício Queiroz se escondeu nos primeiros momentos.
Que um parlamentar tenha ligações com um sujeito que ostenta essas credenciais já é uma completa desmoralização, que esse mesmo político financie suas atividades criminosas ao empregar a mãe e a mulher, via pagamento com dinheiro público, é a desmoralização da própria política.
Em nota oficial, a desculpa, como sempre, não poderia ter sido mais cínica. Entre os despautérios, afirma que as nomeações ficaram a cargo exclusivamente do seu amigo e ex-assessor Fabrício Queiroz e que, portanto, não pode ser responsabilizado por atos que desconhece.
Dizer que desconhece e que não tem responsabilidade alguma pelos próprios assessores que contrata em seu gabinete é a tapa na cara diária nos contribuintes em geral e nos seus eleitores em particular.
A desculpa já seria esfarrapada demais se o próprio Flávio Bolsonaro não fosse o autor de uma Moção de Louvor e Congratulações ao sujeito em questão.
Moção essa, aliás, que igualmente foi concedida ao Major Ronald Paulo Alves, outro miliciano denunciado por participação nos mesmos crimes. Este devidamente preso na operação desta terça.
Como se vê, Flávio não só possui seus bandidos de estimação como os condecora publicamente.
Tudo já seria um verdadeiro filme de terror político e criminal se todas as conexões não levassem a uma pergunta que já se aproxima de um ano sem qualquer resposta satisfatória:
Quem matou Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes?
Em meio a todas as dúvidas que pairam sobre essa brutal chacina, uma única verdade se impõe: os dois assassinatos estão diretamente ligados a atividades de milicianos.
Sob o mando de quem tais milicianos agiram é uma questão que até agora o Estado só nos deu a vaga, porém, sugestiva informação: “de políticos poderosos”.
Como dever de casa, fica no ar a pergunta sobre quem seriam os políticos mais poderosos do Brasil na atualidade, quem possui influência na área militar para dificultar deliberadamente as investigações e quais possuem mais aversão a tudo o que Marielle fazia e representava enquanto mulher, homossexual, feminista, ativista, política combativa e de esquerda.
Tudo, obviamente, ainda é muito cedo para quaisquer conclusões, mas fico me perguntando o porquê de tantos esforços por parte não só da família Bolsonaro, mas por inúmeros políticos do PSL em denegrir, difamar e desacreditar todo o trabalho que Marielle vinha fazendo nas comunidades do Rio de Janeiro.
A sanha enfurecida de brutamontes bolsonaristas em destruir placas de rua que homenageiam Marielle pode estar muito além da simples, porém já muito perigosa, imbecilidade de gente que não suporta uma mulher que veio da favela e peitou de frente todo um sistema político completamente corrompido e criminoso.