Um projeto de lei apresentado na Câmara Municipal de Florianópolis pode homenagear o ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, morto em 2017 poucos dias após ser preso em uma operação que ficou marcada por abuso de autoridade. Cancellier foi liberado no dia seguinte da prisão, já que não havia provas de envolvimento dele em nenhum crime.
A homenagem foi proposta pelo vereador Afrânio Boppré (PSOL), que prevê denominar “Avenida Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo” uma via pública que está sendo construída às margens da universidade a que ele dedicou sua vida: Cau, como era chamado, foi estudante da UFSC, professor, diretor do Centro de Ciências Jurídicas e Reitor.
Cancellier morreu no dia 02 de outubro, ao se atirar do último andar de um shopping, no Centro de Florianópolis. A tragédia aconteceu cerca de duas semanas após uma operação da Polícia Federal ser deflagrada, sob o comando da delegada Érika Marena (que tinha sido coordenadora da Operação Lava-Jato em Curitiba), que, com muita espetacularização midiática, levou o então reitor para a prisão. Marena, posteriormente, chegou a ser escolhida para integrar a equipe de Sérgio Moro no ministério da Justiça e Segurança Pública, em 2019.
Familiares e amigos relatam que Cancellier viveu dias terríveis após a prisão, com muita vergonha de ver seu nome estampado nas páginas policiais de jornais. Seus irmãos, Júlio e Acioli, afirmam que o ex-reitor tinha receio de ser identificado pelas pessoas e por isso evitava sair de casa.
“Ao nomear a nova via pública, construída junto à Universidade, à qual tanto se dedicou, a Câmara de Florianópolis presta uma merecida homenagem a um personagem da história da nossa Cidade, reconhecido pelo perfil conciliador, equilibrado e inclusivo e que hoje é referência da luta por democracia e justiça no Brasil”, disse Afrânio Boppré ao DCM.
Acioli Cancellier, irmão mais velho do ex-reitor, afirmou estar muito emocionado com a homenagem: “Não consigo segurar minha emoção, pois é a primeira ação do poder público, no caso, a Prefeitura Municipal de Florianópolis, que vai reconhecer a inocência do Cau”.
Em 2017, uma suspeita de corrupção na UFSC fez com que a Polícia Federal deflagrasse a operação Ouvidos Moucos na universidade, um desdobramento da Lava-Jato em Santa Catarina. Cancellier não era sequer acusado no processo, mas mesmo assim foi preso, afastado da sua função de reitor e proibido de entrar no espaço físico da UFSC. No dia em que se suicidou, foi encontrado um bilhete no bolso do seu casaco, que dizia: “Minha morte foi decretada quando fui banido da Universidade!”.
O presidente Lula (PT), também vítima de lawfare, já citou o caso da injustiça cometida contra Cancellier em diversas oportunidades. Nos últimos dias, o vereador Afrânio esteve em Brasília e levou a placa com o nome de Cancellier para o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), que se comprometeu a entregá-la para o chefe do Executivo. De acordo com Boulos, Lula está sensibilizado com a possível homenagem ao ex-reitor em Florianópolis.