O inquérito das fake news, que há muito tempo engloba atos antidemocráticos, todo o gabinete do ódio e as milícias digitais, foi aberto no dia 14 de março de 2019. É muito tempo.
Completa quatro anos daqui dois meses e meio. A investigação, considerada controversa por ser de iniciativa do Supremo (por este ter agido como Ministério Público), foi deflagrada pelo ministro Dias Toffoli, então presidente do STF.
Toffoli entregou a relatoria a Alexandre de Moraes. O inquérito foi crescendo e acolhendo a investigação dos atos antidemocráticos e de quase tudo o que se relacionava com a estrutura fascista da comunicação e da ação política paralela e clandestina que existia dentro do Planalto.
A existência da estrutura das milícias dentro do palácio foi comprovada pela delegada da Polícia Federal Denisse Ribeiro e está em relatório que a servidora encaminhou ao Supremo em fevereiro do ano passado.
Muito dos fatos que envolvem falas com agressões a ministros do STF, mentiras, conspiração, ameaça de golpe e situações assemelhadas cabe no que acabou virando um superinquérito.
E assim a investigação passou a ser, numa comparação campeira, o porco que Moraes foi engordando, enquanto o risco de golpe crescia.
A dúvida surgida no meio do caminho não é banal: como o Supremo irá encerrar as sindicâncias, conduzidas pela PF, com tantas pontas e tanta gente envolvida, inclusive o próprio Bolsonaro?
Resumindo, para seguir na mesma comparação: Moraes engordou o porco, mas conseguirá matá-lo, ou o bicho se transformará num problema?
É a questão que se renova a cada fato novo, como o que aconteceu no passado, quando um grupo formado por oito tios do zap, de empresários milionários, foi parar dentro do inquérito por suspeita de pregar e disseminar o golpe.
Moraes mexe agora com as inquietações dos pessimistas, que não enxergavam uma saída para a identificação e punição não só de operadores, mas de financiadores dos esquemas.
Com a decisão recente de quebrar o sigilo telefônico e de dados de oito pessoas (que não têm os nomes revelados), revelada pelo site Metrópoles, o ministro aperta o cerco em torno dos suspeitos graúdos.
Num primeiro momento, podem dizer que a apuração de dados de apenas oito pessoas seria insuficiente para revelar uma vasta teia de golpistas articulados em todo o Brasil com os filhos de Bolsonaro, empresários e gente do governo.
A resposta é que o alcance da medida não tem limites. A partir dos oitos que terão informações devassadas, Moraes quer chegar a todos os que conversavam com eles.
É provável que gente não incluída entre os diretamente investigados, mas que teve contato com eles, seja mais importante para a estrutura criminosa do que os próprios suspeitos.
A partir dos oito investigados, Moraes poderá chegar a pessoas do antigo governo, a interlocutores dos suspeitos em várias áreas, a operadores do esquema, financiadores e até a jornalistas que trocavam ideias e informações com os líderes de manés e patriotas.
É o que a investigação aberta em dezembro permite. O ministro autoriza que também sejam quebrados os sigilos de todos os que mantiveram contato com esses investigados.
É mais uma ação que vai dar o que falar, por envolver gente que não estaria sob suspeita, mas tudo o que Moraes faz vira controvérsia.
É possível, segundo o Metrópoles, que a quebra de sigilos leve ao próprio Bolsonaro, se esse interagiu com os investigados.
É difícil que não tenha interagido com pelo menos um deles, se todos são considerados importantes para o desvendamento do que faziam.
As investigações contra extremistas saem dos manés dos acampamentos e retornam às suas origens, cercando os que motivaram o início do inquérito lá em março de 2019. É gente grande.
Publicado originalmente em Blog do Moisés Mendes