Um dos lugares comuns mais imbecis do noticiário é aquele que fala em nome do “mercado”.
O mercado gostou. O mercado detestou. O mercado aprovou. O mercado rejeitou.
O mundo seria um horror se os desejos do “mercado” fossem sempre atendidas.
O “mercado” é o nome fantasia do que se pode chamar de direita.
Se a humanidade tivesse seguido as sugestões do “mercado”, viveríamos como na Revolução Industrial. Jornadas de 18 horas, crianças nas máquinas, nada de férias, nenhum direito.
Foi Bismarck, na Alemanha da segunda metade do século 19, que criou o chamado Estado de Bem Estar. Não porque fosse um homem bonzinho, mas por temer o que a esquerda alemã, sob a inspiração de um certo Karl, poderia fazer caso a classe trabalhadora continuasse a viver no inferno.
Bismarck afrontou o “mercado”.
Mais recentemente, os gregos também disseram não ao “mercado”. Eles se cansaram de dizer sim, e por conta disso viver em condições abjetas.
O “mercado” clama por austeridade. Mas austeridade para os 99%, porque para o 1% a festa continua.
No Brasil, como na Grécia, a sociedade também rejeitou o “mercado”, que queria Aécio.
Ironicamente, Dilma, a escolhida pelo voto popular, se comportou no começo de seu segundo mandato como se o “mercado” tivesse saído vitorioso nas urnas.
Joaquim Levy é o símbolo disso.
O novo presidente da Petrobras traz uma novidade: é a primeira vez, da Dilma 2, em que o “mercado” é rejeitado.
Vamos resumir. Se o “mercado” fosse bom assim, o mundo não enfrentaria uma crise econômica que se arrasta desde 2008.
Porque esta crise veio exatamente do “mercado”. Ele impôs, e Thatcher foi chave nisso, desregulamentações em série nos bancos.
Resultado: entregues à própria ganância, traduzida em bônus milionários, e sem fiscalização de qualquer espécie, os banqueiros começaram a fazer operações cada vez mais perigosas.
Num certo momento, tais operações se tornaram suicidas – emprestar maciçamente a quem talvez não tivesse condições de honrar os empréstimos.
Veio a quebradeira dos bancos, em 2008 — e com ela o colapso na economia global que ainda vemos hoje.
O dinheiro do contribuinte salvou os grandes bancos nos Estados Unidos e na Europa desenvolvida – Alemanha, Reino Unido e França.
O “mercado” mandava desregulamentar, e assim se fez.
Em todo o mundo, há um cansaço com o “mercado” – pelas enrascadas em que ele mete quem o segue.
E pelo preço que sempre cobra em ações sociais. Quando virou ministra da Educação, antes de se tornar premiê, a primeira ação de Thatcher, a Rainha do “Mercado”, foi cortar o leite que era fornecido às crianças nas escolas britânicas.
Não surpreende a festa que os ingleses fizeram quando ela morreu. Cobri uma delas, em Trafalgar Square, no centro de Londres, e posso garantir que a animação não era pequena.
É positiva a escolha do novo presidente da Petrobras quando mais não seja pelo não submissão ao “mercado”.
Se dependesse dele, a Petrobras desde FHC teria o destino da Sabesp – que, em bom pedaço privatizada, deu grandes lucros aos acionistas até não dar mais água aos paulistas.