Publicado originalmente na “Rede Brasil Atual”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) destacou a importância de sua presença durante a coroação do rei Charles III, na Inglaterra. Lula lembrou que é a primeira vez desde 2012, durante o governo Dilma Rousseff (PT), que um chefe de Estado brasileiro discute negócios com o país. “Ou seja, o Brasil parou de falar e de discutir. Chegamos a ter um fluxo comercial de mais de US$ 8 bilhões e caímos para US$ 6 bilhões”, disse. “Essa foi uma das melhores visitas que tivemos na Inglaterra”, disse Lula em entrevista em Londres após a cerimônia de coroação.
Lula busca retomar negócios e o protagonismo do Brasil no cenário internacional. Para isso, considera a Inglaterra país estratégico. O rei Charles III manifestou preocupação com questões ambientais, o que pode trazer um importante aliado ao Brasil. “A primeira coisa que o rei disse para mim foi para que eu cuidasse da Amazônia. Eu disse que precisamos de ajuda. Para preservar a floresta, temos que pensar que no lado brasileiro, temos 25 milhões de pessoas. Essas pessoas querem comer, passear”, afirmou Lula.
Ontem os ingleses já deram a primeira demonstração de boa vontade neste sentido. O primeiro-ministro, Rishi Sunak se comprometeu, durante uma reunião com Lula, a integrar o Fundo Amazônia. “O primeiro-ministro assumiu a responsabilidade de contribuir com o Fundo Amazônia. Nós tínhamos perdido tudo. O ex-presidente (Jair Bolsonaro) não aplicava. Tínhamos perdido o fundo da Noruega e da Alemanha. Agora não estamos só aplicando, mas recebemos aviso do Biden e agora também da Inglaterra.”
Liderança ambiental
O presidente brasileiro disse que prosseguirá com postura firme diante da comunidade internacional nos assuntos que envolvem o meio ambiente. E voltou a defender, agora diante dos ingleses, a realização de uma Cúpula do Clima da ONU (COP) no Brasil. Mais especificamente na Amazônia. “Estou pleiteando que tenhamos uma COP (a COP-30, em 2025) na Amazônia. Ou seja, quem defende a Amazônia, quem é contra o desmatamento, vai ter a chance de estar na Amazônia. Pode até dormir em um barco no Tapajós”, comentou.
O objetivo de Lula é cobrar ações de fato dos países mais ricos no combate ao aquecimento global. “Desde 2015 os países ricos prometem dinheiro para a preservação. Mas o dinheiro não vem. Preservar a floresta é nossa responsabilidade. Ninguém tem o direito de cortar uma árvore de 100 anos para fazer uma cadeira. A árvore pertence à humanidade. Então, ao discutir a preservação, precisamos discutir como fazer a gente da floresta viver dignamente.”
Brasil protagonista
Lula assistiu à coroação em Londres ao lado do presidente francês Emmanuel Macron. Os dois chefes de Estado possuem boa relação. A França, inclusive, é interessada com legitimidade particular na questão amazônica. Isso porque o país faz fronteira com o Brasil na região, no território da Guiana Francesa. Além de reafirmar a vontade de realizar a COP-30 no Brasil, Lula também cobrou de Macron mudanças na governança global.
“Aproveitei que o Macron estava aqui e conversamos, porque quero conversar com ele a mesma conversa que tive com a China. Alguém nesse mundo precisa se preocupar com a paz. Alguém precisa convencer a parar a guerra. Depois disso, sentar em uma mesa e negociar. Então, foi muito importante esse diálogo”, disse o presidente, em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia.
Para alcançar uma paz duradoura, Lula defende reformas na ONU. Entre elas, a revisão dos países membros do Conselho de Segurança, bem como o fim da poder de veto deste seleto grupo. “Precisamos de uma nova governança mundial. Não podemos manter a geopolítica de 1945. Precisamos de mais representatividade de mais continentes, sem direito a veto do Conselho de Segurança. O Brasil quer estar no Conselho de Segurança, mas também outros países da África, da Ásia. Não tem explicação por que a Índia, com mais de 1 bilhão de habitantes, não está. Nigéria, África do Sul, Egito, México. Então é preciso de uma nova governança para que as decisões da ONU sejam respeitadas”, disse.
Assista à entrevista de Lula em Londres