Publicado originalmente em Blog do Moisés Mendes
A Folha de S. Paulo produz uma manchete diária contra Lula ou com alguma abordagem favorável a Bolsonaro. A manchete desse domingo é de exaltação do bolsonarismo como única forma de oposição a Lula, tese há defendida em editorial.
Nem Estadão nem Globo estão com a pegada forte de adesão ao discurso fascista de que é possível inviabilizar o governo Lula na arrancada.
É a Folha que lidera o discurso falsamente moralista de que Lula estaria marcado pela frase em que, na entrevista ao Brasil 247, disse que gostaria de foder com Sergio Moro.
Na mesma linha, é a Folha que propaga que Lula se equipara a Bolsonaro ao dizer que a estranha história da perseguição do PCC ao ex-juiz suspeito tem cheiro de armação.
O sentimento que a Folha tenta disseminar, e que está colando em boa parte da classe média, é o de que Lula baixou o nível.
Uma classe média viciada nas grosserias criminosas de Bolsonaro estaria alarmada com os verbos usados por Lula, e por isso – combinado com o que seriam vacilos na economia – o governo não arranca com melhores índices nas pesquisas.
Lula, segundo a Folha, já deveria ter resolvido a equação fiscal, a pauta que os jornalões e a Faria Lima colocaram na mesa como nunca antes nesse país.
Mas deixemos a questão do arcabouço de Haddad, porque aqui o cinismo dos ‘especialistas’ é explícito demais por parte de quem nem nunca cobrou seriedade fiscal do fascismo que ficou quatro anos no poder pagando pedágio para o centrão sem qualquer preocupação com as contas públicas.
Vamos falar do moralismo que frequenta inclusive rodas das esquerdas, nas quais Lula é considerado boca suja pelas tias limpinhas dos bons modos na política.
Vamos lembrar dois, e apenas dois, episódios da boca suja de Bolsonaro no ano passado, durante a eleição.
Em 5 de outubro, três dias depois do primeiro turno, o Brasil ficou sabendo que em 2016, em entrevista ao New York Times, Bolsonaro havia confessado que quase comeu um indígena em Roraima.
Está no vídeo divulgado:
“Morreu o índio e eles estão cozinhando, eles cozinham o índio, é a cultura deles. Cozinha por dois três dias, e come com banana. Daí eu queria ver o índio sendo cozinhado, e um cara falou, ‘se for ver, tem que comer’, daí eu disse, eu como! E ninguém quis ir, porque tinha que comer o índio, então eles não me queriam levar sozinho, e não fui. Eu comeria sem problema nenhum. É a cultura deles. Eu me submeti a isso”.
Em 15 de outubro, a duas semanas do segundo turno, o Brasil ficou sabendo que Bolsonaro sentia atração por crianças.
Um dia antes, em entrevista a um podcast, o sujeito confessou, ao falar mal da Venezuela, que encontrou um dia ao acaso na rua um grupo de meninas venezuelanas, em São Sebastião, na periferia de Brasília.
Vamos relembrar o que ele disse:
“Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas; de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei, ‘posso entrar na tua casa?’ Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando —todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Você quer isso para a tua filha, que está nos ouvindo aqui agora?”
As meninas não eram prostitutas. Estavam se pintando para uma festa. E a confissão sobre o clima com conotação sexual nunca resultou em nada.
O sujeito que quase comeu um índio e que foi conferir o que as crianças queriam com ele está aí de novo. E a Folha compara Lula a essa aberração.